14/01/12

A CRISE DE 1383-1385 (III) – o grande match

Quanto ao jogo propriamente dito, eis a sua crónica como no-la conta o grande repórter desportivo Fernão Lápis, jornalista da Gazeta Lusitana:
“Os castelhanos resolveram assumir as despesas da partida quando o dia já estava adiantado, fazendo avançar as suas cargas de cavalaria em bloco, com grande entreajuda entre os seus sectores.
D.Nuno Alferes Pereira apercebe-se disso e efectua uma arrojada manobra táctica, colocando peões e cavaleiros a actuar pelas faixas laterais, com um trinco a meio campo, resguardado por um grupo de defesas coreáceos. À frente, arqueiros e besteiros faziam o papel de pontas de lança, descaídos para os flancos em constantes movimentações, procurando as desmarcações da frente atacante de soldados lanceiros. Foi a chamada “táctica do quadrado”, um hino à cultura de jogo e que desde início deu resultados, pois os cavaleiros castelhanos caíam sistematicamente em fora de jogo (devido a grandes buracos no meio campo) onde, sem marcações especiais, eles julgavam conseguir vantagem.

O quadrado português consegue suportar, embora com algumas falhas, o assédio castelhano ao nosso reduto e uma vez conquistada a bola no miolo do terreno, lançam-se vertiginosos contra-ataques através dos arqueiros do centro do quadrado. É um período de constante movimento, em parada e resposta de grande beleza e expressividade plástica, em que se denota um ligeiro ascendente da força da técnica sobre a técnica da força.

Por esta altura, os ataques de salmonela começam a fazer-se sentir e muitos castelhanos vão caindo ao chão, com cãibras e vómitos, dificultando a progressão no terreno aos seus colegas, que começam a ter de lutar também com falta de espaços para explanar o seu fio de jogo. O terreno fica atravancado e os castelhanos partem os seus pontas de lança ao meio, para melhor aproveitarem o espaço disponível. É, porém, um esforço inútil.

Nuno Alferes Pereira, um verdadeiro “detestável” em campo, é a alma deste jogo e a sua grande figura. Faz lançamentos em profundidade, ora à direita ora à esquerda, com uma força quase sobrenatural, que deixa os castelhanos pasmados, e a selecção nacional vai-se empolgando com o seu próprio carácter e humildade, trabalhando cada vez mais para a vitória. Apesar de estarem em jejum (não houvera verba para estágio), nunca os portugueses se sentiram mais fortes que naquele momento, em que a independência do nosso futebol, duas vezes e meia secular, está dependente da sua firmeza, da sua obstinação, da sua heroicidade.”

Batido pela nossa valentia e superioridade táctica, o rei de Castela abandona o campo mesmo antes de Johnny Rules dar por findo o encontro, o que motivou a nossa vitória incontestada. Depois deste jogo, apenas resistem alguns indefectíveis do rei de Castela que teimavam em desafiar os portugueses para alguns joguitos de tudo ou nada, embora de menor dimensão. O que teve mais história foi o de Valverde, perto de Badajoz, mas mais uma vez D.Nuno Alferes Pereira deu mostras do seu génio táctico, invadindo a localidade de Valverde com milhares de jogadores e dezenas de milhar de apoiantes do povo, que esgotaram todos os stocks dos comerciantes de Badajoz, que não contavam com tal afluxo de visitantes fora da época das rebajas.

Reconhecendo que não podiam alojar condignamente tantos visitantes e com o seu sistema hoteleiro em colapso, os castelhanos foram obrigados a dar a vitória aos portugueses, mesmo sem haver jogo. E, em 1411, é assinado o tratado em que o rei de Castela renuncia definitivamente à sua pretensão da presidência da federação portuguesa de futebol. O trono português está salvo!

1 comentário:

castor71 disse...

LINDO! :D

 
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