07/03/11

INDEPENDÊNCIA E ALARGAMENTO (ii)

Assim, em troca de uma desinteressada contribuição paroquial de quatro onças de ouro por ano, o carimbo final foi colocado no processo em 1179, reconhecendo finalmente na bula papal que D.Afonso Henriques era o legítimo rei do legalmente considerado reino de Portugal. Finalmente, chegara o alvará.
Entre 1143 e 1179, D.Afonso Henriques teve de se entreter com outras coisas enquanto aguardava o seu reconhecimento pela Santa Sé e decidiu voltar-se contra os mouros, para os expulsar de vez. Golpes decisivos: Santarém cai em 1147 nas suas mãos, fulminada por um assalto surpresa à mão armada, e logo de seguida, após cerco que durou quase todo o verão, é conquistada Lisboa, com um importante contributo dos Cruzados, que por acaso aqui passavam a caminho da Terra Santa e que foram feitos voluntários à força nesta guerra contra os muçulmanos. Como o próprio nome indica, os cruzados eram nobres cavaleiros adeptos do cruzadismo, charadas e puzzles, que ocupavam o seu tempo em torneios de palavras-cruzadas contra os mouros, ganhando a maior parte das vezes, excepto, quando surgiam palavras começadas por AL.

Para além destes mercados, D.Afonso Henriques conquistou ainda Sintra, Almada, Palmela, Alcácer do Sal, Beja, Évora, Moura, Serpa e Juromenha, rede de postos emissores de onda média e frequência modelada, que deixou de estar sobre influência da moirama infiel. Por estas alturas surge a notícia bombástica de saldos loucos nos armazéns de Badajoz, aonde ocorrem multidões desvairadas em busca de pechinchas, especialmente, caramelos de nata com pinhões.

D.Afonso Henriques parte também à conquista dos armazéns de Badajoz e está presente quando se dá a intervenção policial com vista a dispersar a multidão desordeira que ali se juntara. O rei português é apanhado no meio da confusão, parte uma perna entalado nas portas giratórias do armazém e é levado pela polícia, para identificação na esquadra. Graças ao seu nome, e porque é sogro de Fernando II, rei de Leão, D.Afonso Henriques consegue sair sem registo no cadastro, regressando a Portugal triste e abatido, sem caramelos.

Foi notável a acção deste rei no povoamento, na valorização do poder económico e marítimo do reino e na defesa da vida cultural. Organizou uma esquadra para jogar em torneios contra equipas moiriscas, nomeando como capitão D.Fuas Roupinho, um mestre no jogo em profundidade quer com o pé esquerdo quer com o direito. Fundou os conventos de Santa Cruz em Coimbra e de Alcobaça (este a cargo de S.Bernardo, patrono dos alpinistas alcoólicos), óptimos locais de desenvolvimento da meditação e da doçaria, criando delícias como barrigas de freira e papos d'anjo.

No ano de 1185 viria a falecer o nosso primeiro monarca, curtido pelas batalhas, exausto pelas vigílias, desgastado pela persistência exigida nos negócios e muito aborrecido pela falta de hobbies para a 3ª idade, sendo enterrado juntamente com sua mulher (que também já estava morta), no mosteiro de Stª Cruz.

No trono, sucede seu filho D.Sancho I, que se preocupou mais em contribuir para o aumento da população mundial do que em conquistar terreno aos infiéis. Ainda assim, decidiu avançar para sul, com dois objectivos: fazer recuar os muçulmanos até à ponta da península ibérica, empurrando-os para o mar e afogando os que não sabiam nadar, e obter as terras do Algarve para as férias da nobreza, como importante fonte de receitas para a balança comercial do país.

Assim, toma em seu poder as estâncias balneares de Alvor, Silves, Albufeira, Portimão, Lagos e Monchique, que lhe darão o título de “rei de Portugal e dos Algarves”, encarando já essa zona como uma espécie de enclave nacional sob domínio estrangeiro, especialmente, de turistas ingleses e alemães. Mas a sombra do poder sarraceno não se havia extinguido e D.Sancho vem a perder as praças conquistadas e aquelas que seu pai lhe deixara a sul do Tejo, com excepção de Évora. Este fenómeno de povoações conquistadas mais de uma vez deve-se ao facto de os católicos não colocarem agentes seus nas câmaras de comércio locais e, por isso, a cada ataque dos retornados muçulmanos com os seus produtos de baixo custo, as cidades voltavam a cair sob a influência árabe. Já se sabe como são os consumidores.
Em resumo, face ao território desgovernado que as lutas tinham deixado, o grande mérito de D.Sancho I foi o de desenvolver uma política de fixação, criando povoações novas (ainda que sem o conhecimento oficial da sua esposa), fomentando o investimento estrangeiro e criando PDRs para ordenar o território, tarefa difícil dado o mau karma que sobrevoou o seu reinado, com tremores de terra, inundações, fome e pestes.

Em 1211 sobe ao trono D.Afonso II, preocupado em conseguir o fortalecimento do poder real, enfraquecido com os abusos dos grandes senhores. E conseguiu tamanho fortalecimento, que doze anos depois morria com celulite, hipertensão e colesterol elevado, ficando conhecido como “o gordo”, bem antes de Jô Soares.
Antes disso, convoca para Coimbra as primeiras cortes de que há memória. Porquê este nome? Precisamente porque são precisos cortes (vulgo, tesouradas) no poder dos grandes senhores feudais, que em certos domínios já mandavam mais do que o próprio rei. Ficou para a história como tendo resgatado para o trono real os poderes ilegítimos de grandes capitalistas opressores da classe operária (entre os quais, os seus próprios irmãos), fazendo valer o bem comum e os interesses da pátria acima dos interesses individuais, embora certos historiadores duvidem de idêntico empenho caso não fosse ele próprio o beneficiado com tudo isso.

A marcar o seu reinado ficou também a primeira participação portuguesa numa selecção ibérica de cruzados, cujo seleccionador era D. Afonso VIII de Castela. O jogo foi contra os mouros, em Navas de Tolosa, em 1212, e segundo as crónicas da época os nossos seleccionados distinguiram-se pela bravura em campo, tendo grande influência na vitória obtida.
 
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