17/04/11

INDEPENDÊNCIA E ALARGAMENTO (iii)

Como já se disse, D.Afonso II engordou o poder real até morrer, altura em que subiu ao trono, embora com dificuldade, o seu filho D.Sancho II, de treze anos apenas. Este jovem veio a revelar-se como o antepassado cultural dos futebolistas portugueses da actualidade, dadas as suas características, como se pode ler no seguinte texto, da autoria do historiador José Irmão Sem Raiva:

“Quando em campo, D.Sancho II conseguia aliar a sua bravura a uma enorme sabedoria das cousas da guerra. No entanto, os seus dotes de oratória e diplomacia deixavam algo a desejar. Jovem, gostava mais de ir para o campo pelejar, do que ficar a burilar os meandros da política, que o dominam...”

Os senhores feudais, aproveitando-se da pouca habilidade do rei para jogos de palavras, tentavam reaver os antigos poderes, multiplicando desordens internas, sem que D.Sancho II tivesse a coragem política necessária para chamar a polícia de intervenção, não se preocupando com as eleições. Como se sabe, este medo era injustificado, porque na altura nem sequer haviam eleições.

Alguns bispos, pessoas pouco dadas ao forrobodó que se vivia, escrevem uma mensagem para Roma, informando o Papa do que se passa – aquilo a que nós historiadores costumamos designar pelo termo técnico de “queixinhas”. D.Afonso, conde de Bolonha, irmão de D.Sancho II, inventa o termo “força de bloqueio” e começa a fomentar a acção dos descontentes, minando ainda mais o ambiente de guerra civil, onde se formam dois partidos (o do rei e o do infante), que se guerreiam entre si em comícios, manifestações, visitas a praças para distribuir acenos e aventais às peixeiras, colando cartazes nos castelos, etc.

O Papa Inocêncio IV (que pelo nome se percebe não ser muito astuto), desliga os portugueses da obediência a D.Sancho II e indica o irmão como regedor do reino, o que é bastante para que o “Bolonhês” entre em Portugal como “visitador e curador” do reino, o que muito desagrada à Ordem dos Médicos,
que não reconhece o diploma de curador de D.Afonso – ainda e sempre a questão de Bolonha. Vencido e espezinhado pelo irmão, D.Sancho II retira-se para Toledo onde viria a falecer, herdando legalmente a coroa, D.Afonso III. Desta sucessão ao trono e da tareia dada ao irmão, surgirá mais tarde o termo “pisa à bolonhesa”.

A sua governação foi muito útil ao reino, ou pelo menos assim dizem os cronistas pagos por ele. Conquistam-se definitivamente Faro, Albufeira, Tavira, Porches, Ferraris e demais localidades algarvias que nos tornam, hoje, na nação europeia com as fronteiras mais antigas. Pelo meio ficam alguns desaguisados com Afonso de Castela, que tinha planos para incluir o Algarve no seu roteiro turístico de Marbella, Benidorm e Torremolinos. Porém, D.Afonso III desloca-se a Badajoz e consegue dois importantes feitos: primeiro, compra os caramelos desejados por seu bisavô D.Afonso Henriques; segundo, assina um tratado que coloca definitivamente o Algarve do lado de cá da fronteira.

Em 1254, convoca as Cortes de Leiria, onde pela primeira vez o sujo e desmazelado povo tem direito a sentar suas nalgas na assembleia. Estabelece em Lisboa a capital do reino, com grande inveja dos nobres das Antas, desenvolve a indústria e o comércio do sal, exportando para a Europa uns salgadinhos que são um sucesso de vendas. Tendo estudado em França, o rei tem vistas largas, e apercebendo-se na nossa natural tendência para meter água, desenvolve também a indústria naval (submarinos não incluídos).
 
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