23/12/11

A CRISE DE 1383-1385

Segundo o costume, a um rei sucedia o seu filho varão (mais velho), algo que não era possível nesta altura porque D.Fernando não cuidara de resolver essa questão em devido tempo.
Agora que morrera, a sucessão ao trono era um pedacito complicada, pelo excesso de candidatos, nem todos recomendáveis, como se pode ver no confuso diagrama abaixo incluído. Para resolver este problema, algumas mentes mais ébrias chegaram a avançar com a hipótese de um referendo popular entre os candidatos, o que devido à falta de democraticidade reinante e ao analfabetismo, depressa foi abandonada.

A principal problemática da regência era a de que o cargo de rei dava também acesso à presidência da liga portuguesa de futebol e, como tal, a cadeira mais importante do país não poderia ser entregue a qualquer um. Com a morte de D.Fernando, a regência passa para a sua mulher Dª.Leonor Teles, que trata de a passar a sua filha Dª Beatriz, para poder estar mais tempo com o fidalgo castelhano João Fernandes Andeiro. O povo e as suas línguas viperinas de inveja começaram a zurzir contra Dª Leonor, a “desavergonhada que deixava o reino nas mãos da filha, a qual não percebia nada de futebol, para se entreter na alcova com o conde Andeiro”. O facto de não ter comparecido às cerimónias fúnebres de seu marido, gerou uma onda de indignação e revolta que a tornou ainda mais impopular, embora Dª Leonor tenha apresentado atestado médico comprovando a ausência com um súbito ataque de disenteria.

Para compensar a inépcia de Dª Beatriz, juntava-se o poder do conde Andeiro que, do leito do amor, manobrava todos os cordelinhos (dos espartilhos e dos outros), atribuindo subsídios apenas aos amigos castelhanos e usando e abusando de dinheiros públicos para adquirir carruagens particulares com cocheiro, que usava nas suas funções de secretário geral da federação. Como se percebe, algo completamente impossível hoje em dia.

A alma lusitana pressentia o perigo de Castela pesando sobre a terra portuguesa e a firme vontade de varrer, de uma vez para sempre, a intromissão do elemento estrangeiro na nossa vida veio ao de cima, enquanto Leonor Teles se mostrava executora de uma política desastrada. Havia que arranjar um rei português, o mais rapidamente possível. Pensava-se geralmente no infante D.João, filho de D.Pedro e Dª Inês de Castro, mas ele estava em Castela, incomunicável, acompanhando o seu irmão numa cura de desintoxicação numa clínica privada muito conhecida.

Por isso, se voltaram para outro filho bastardo de D.Pedro (felizmente, que os havia em fartura), também de nome João, que por essas alturas ganhava a vida com um bem sucedido negócio de aluguer de viaturas, a “Avis rent-a-coche”, fazendo alugueres comerciais e de fim de semana, com ou sem cocheiro, para todo o país e estrangeiro e com condições especiais para empresas. E tanto sucesso tinha que no local da sua loja era conhecido por D.João Mestre de Avis, alcunha que viria a pegar pela vida fora. É a D.João que os cabecilhas recorrem com o plano para assassinar o conde Andeiro, o qual consistia em entrar no palácio pela calada da noite e dar uma facada no conde enquanto ele estivesse no duche. Houve quem lhe chamasse Operação “Psico”, mas esse nome foi abandonado por ser considerado demasiado Hitchcockiano.

Mas nem tudo correu conforme o planeado. D.João não conhecia a planta do palácio e enganou-se no caminho, indo parar às adegas da cave, onde ficou trancado durante duas ou três horas. Cá fora, face à demora do Mestre de Avis, começou a correr o boato que o conde Andeiro tinha apanhado o Mestre e o tinha morto. Perante isto, a reacção do povo foi uma desgraça pois D.João era muito respeitado, além de ter a única loja de aluguer de coches nas redondezas.

Na verdade o conde Andeiro acabou mesmo por morrer ao escorregar no poliban durante o duche, batendo com a cabeça nas torneiras. Por isso, após beber alguns tonéis e conseguir rebentar com a porta da adega, D.João apareceu cambaleante a uma janela do palácio, rejubilando o povo e nomeando-o logo ali como regedor-mor da federação portuguesa de futebol. Dª Leonor em face da evolução dos acontecimentos e com receio que lhe cortassem a parte superior da garganta, fugiu para Santarém, donde enviou um pombo-correio a pedir auxílio ao seu genro, D.João, rei de Castela. Este, tinha há muito tempo em vista os domínios da sogra e o seu apelo foi tudo quanto bastou para avançar. Interessava-lhe a presidência da federação portuguesa de futebol, pois um dos seus objectivos era fundir o campeonato castelhano com o nosso, formando um torneio ibérico mais competitivo e atractivo, para ser vendido às televisões por muitos milhões de maravedis.

18/12/11

1ª DINASTIA

Eis-nos chegados ao fim do estudo da primeira dinastia real, também chamada de dinastia dos Afonsinhos. Os seus descendentes tentaram retomar o trono (pelo menos o da música pop) em meados da década de 80 do séc.XX, como um grupo auto-intitulado "Os Afonsinhos do Condado", mas tirando o mega-hit "a salsa das Amoreiras", não chegaram muito longe.



D.AFONSO HENRIQUES (1128-1185) – O FUNDIDOR – porque enquanto pôde e teve saúde, tratou de fundir a paciência à mãe, a familiares e a muçulmanos, embora, pessoalmente, nada tivesse contra eles.





D.SANCHO I (1185-1211) – O POVOADOR –
porque à sua conta, quer legítima quer ilegítimamente (sobretudo), tratou de povoar o reino com jovens rebentos. O apelido de Pai da Nação, que então corria, não era inteiramente descabido.






D.AFONSO II (1211-1223) – O OBESO –
também conhecido como excessivamente largo, porque se dedicou ao fortalecimento do poder real, especialmente o seu. Ainda assim, foi convocado para a primeira selecção ibérica em 1212.






D.SANCHO II (1223-1248) – O CABELO –
na impossibilidade de o cognomear “o careca”, ficou assim conhecido por não levantar cabelo contra os senhores feudais que aumentavam o seu poder a olhos vistos, excepto aos do rei. Um verdadeiro D.Chacho.






D.AFONSO III (1248-1279) – O BOLONHÊS –
porque inventou o termo “pizza à bolonhesa” ao dar uma carga de porrada no irmão. A sua receita de raviolis à bolonhesa já não teve tanto sucesso.






D.DINIS (1279-1325) – O JOVEM AGRICULTOR –
porque era este o seu hobby, onde gastou os rendimentos que a sua veia artística lhe proporcionava, cantando rimas às damas. Incluindo as trabalhadoras liberais nas margens dos pinhais de Leiria.






D.AFONSO IV (1325-1357) – O PARVO –
porque se empenhou em guerras inúteis com Castela, para depois se juntar a eles na Batalha da Salada, contra os muçulmanos. Viu a peste preta invadir-lhe o reino, coisa que não é bonita de se ver.






D.PEDRO I (1357-1367) – O VINGADOR –
porque lutou tenazmente contra os excessos burocráticos que lhe vitimaram a amada Dª Inês. Conseguiu a vingança a quente, que não é a que melhor sabe, dizem os chineses.







D.FERNANDO (1367-1383) – O FAMOSO –
especialmente entre as mulheres, era-o muito, com destaque para as Leonores, que ansiavam que ele as escolhesse para rainhas, devido à sua fixação por esse nome. Apenas uma o conseguiu.

16/10/11

ENTRE MARIAS E LEONORES - O FIM DE UMA DINASTIA

No meio de todas as diatribes, D.Fernando tomou algumas acertadas medidas de fomento do bem público, embora não esteja ainda comprovado que não foram acções tomadas por acaso. Entre elas, conta-se o desenvolvimento do comércio naval e da marinha, para o qual fundou, em Lisboa e no Porto, a “Companhia das Naus, SA”, sociedade de aluguer de navios de longa duração, companhia muito útil aos burgueses que viam suas embarcações a navegar como o prego ou a serem atacadas por piratas com olho de vidro, perna de pau e cara de mau. Não confundir com piratas de cara de pau, pertencentes às finanças do reino.

Do abandono dos campos e do aumento da vagabundagem surgiu outra das medidas emblemáticas. Da sua varanda sem marquise, D.Fernando verificava que os campos à sua volta estavam cada vez mais em pousio, mas o que mais o intrigava era ver, à sombra de um sobreiro, seis mulheres que ali passavam as horas, dia após dia, aparentemente sem nada fazerem, o que o intrigava sobre qual seria o seu modo de vida. Enviando lá seu pagem, este trouxe a explicação: as seis mulheres tinham todas o nome de Maria. A primeira era Maria Antonieta e nada fazia. Depois Maria Carolina observava a companheira e Maria Octaviana reportava os que as duas primeiras faziam. Havia também a Maria Terência que ouvia a Maria Octaviana e a Maria Rapaz, que confirmava o que ela dizia. Por fim, estava a Maria Vai Com As Outras, que ajudava as restantes. Perante tamanho exemplo de vadiagem com tantas terras por cultivar, D.Fernando decide publicar uma lei que solucione o problema: nasce a “Lei das Seis Marias”, que obriga todos os vagabundos a lavrarem as suas terras. Esta lei é também a institucionalização de um programa de ocupação temporária, com o objectivo de disfarçar a taxa de desemprego.

Por regra, D.Fernando trouxe mais problemas à coroa do que benefícios. Entre aqueles se conta a sua fixação por mulheres chamadas Leonor, ou, na palavra de Fernando Lápis, cronista-mor, uma verdadeira tara. Primeiro, comprometeu-se em casar com Dª Leonor, filha do rei de Aragão, mas abandonou a noiva à porta do registo civil porque, entretanto, se apaixonara por Dª Leonor, filha do rei de Castela, prometendo casar com ela. Só que D.Fernando tinha alma de político em campanha e, mais uma vez, faltou ao prometido por via da paixão assolapada por Dª Leonor Teles, que escritos da época descrevem como “senhora de mau porte e maus sentimentos, que não era séria”.

Daqui se depreende que Dª Leonor Teles era corcunda, invejosa e gostava de contar anedotas, sobejos motivos para que a população não gostasse dela. E quando D.Fernando a decide tornar primeira dama do reino e povo revolta-se em motim popular liderado pelo alfaiate Fernão Vasques, que dizia não haver tecido suficiente no reino para fazer um vestido de noiva à senhora. Dª Leonor Teles tomou isso muito a peito (que o tinha, generoso), e assim que convenceu D.Fernando a um casamento secreto em Leça do Balio, tratou de mandar executar os instigadores do motim, incluindo Fernão Vasques e todos os seus manequins de madeira. Terrível golpe para a moda portuguesa, do qual ela nunca mais haveria de recuperar, e terrível golpe para o país, que ficou sob o domínio de uma rainha que, embora não andasse com o rei na barriga (só teve uma filha), era suficientemente hipócrita, snob e convencida, para que as revistas sociais se interessassem por ela e a apresentassem em capa de todas as edições.

Em 1383 morre D.Fernando, esquecendo-se de fazer um filho antes disso, o que faz com que Portugal entre num grave período de crise social. É também agora que se dá o fim da primeira dinastia, chamada de Dinastia dos Afonsinhos. Antes de passarmos à fase seguinte, é de toda a utilidade que os nossos jovens leitores nos acompanhem num breve resumo sobre quem foram os reis deste período, matéria que poderá ser muito utilizada na construção de futuros auxiliares de memória a usar nos testes.
Esse resumo será o nosso próximo capítulo.

08/10/11

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO (parte III)

O reinado de D.Afonso IV marcou o início de um período de crise social (mais outro). A população fugiu do interior para o litoral, em busca de praias e bons empregos nas cidades, deixando os campos ao abandono. Tudo se agrava em 1348, com aquilo a que os historiadores (da escola Ariana) costumam designar por Peste Negra, que se traduziu na vinda ilegal para o país de milhares de trabalhadores africanos, que ofereciam o seu trabalho por metade dos salários habituais para os servos da gleba locais.

Este período é designado por peste, uma vez que os trabalhadores que tinham vindo do interior, viam agora os seus postos de trabalho ocupados por africanos ilegais, ficando, por isso, sem emprego, sem sustento e morrendo aos milhares. Durante este período, a população decresceu cerca de um terço, assim o demonstram os censos, embora haja dúvidas sobre a autenticidade destes números, pois, por um lado, os inquéritos não eram preenchidos pela internet, o que dava azo a falsificações e, por outro, o próprio fenómeno da peste apanhou alguns dos responsáveis pela estatística, que morreram antes de completar os recenseamentos. Alguns anos depois, tão misteriosamente como tinha surgido, este período, dos mais negros da nossa história, cessou.
Mas o reinado de D.Afonso IV também teve coisas boas, entre elas a inovação na justiça que, até aí, era administrada por “juízes da terra” - do lugar onde ocorriam os problemas. Ora, devido à sua função de aplicação da justiça, o juiz era considerado um santo homem e, como diz o povo, santos da terra não fazem milagres. Acresce que, por vezes, obter justiça era um milagre, portanto, os homens da terra poderiam falhar. É então que D.Afonso IV descobre o ovo de Colombo (ainda antes do dito) ao inventar a figura de “juiz de fora”, mais independente que o “juiz de dentro” - ao fim e ao cabo, um protótipo do pensamento neo-liberal de administração da função pública, de contratação externa de serviços para algo já assegurado pelo pessoal contratado.

A patente de tal invenção rendeu-lhe bom dinheiro, mas não o suficiente para resolver a crise económico-social que se instalara. Greves, manifestações do operariado e ordens para apertar o cinto (para os que o tinham, dado não ser acessório muito em voga na época), marcavam o ritmo de uma época conturbada. É neste cenário que se dá o episódio dos amores de Pedro e Inês, bastante comentado pela imprensa da época e que até motivou Camões num dos seus devaneios poéticos, o que veio ajudar à propagação do mito. O propósito do autor desta obra (a VERDADEIRA história de Portugal, não os devaneios poéticos) é o de não enganar ninguém, pelo que se opta por contar os factos verídicos e não a versão romanceada que se ensina por aí.

O filho de D.Afonso IV, príncipe D.Pedro, ficou subitamente viúvo pela morte de D.Constança e, pouco depois, tratou de arranjar nova companhia, pois um membro da família real tem a todo o custo de deixar descendência (veja-se o caso de D.Duarte Pio, nos últimos anos do século passado). Após várias tentativas frustradas para encontrar abrigo num colo acolhedor, D.Pedro decide recorrer aos serviços de uma agência matrimonial especialista em juntar pessoas compatíveis. O resultado dos vários testes de sangue e exames psicotécnicos, indica o nome de D.Inês de Castro, senhora de origem castelhana e rara beleza, que imediatamente arrebata o coração de D.Pedro, pronto para o casamento (e também para o acasalamento).

Mas nem tudo era tão fácil como à primeira vista se supunha. O casamento de um rei exige certas burocracias e formalidades a cumprir. Para mais, D.Inês era castelhana e havia o problema da legalização dos estrangeiros, além de que, os funcionários encarregues do processo (Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco) eram escriturários pagos à hora, interessados em arrastar o mais possível todo o trabalho que tivessem entre mãos. Demoraram-se eternidades, exigiram-se mil e um documentos e as preocupações foram tantas que, entretanto, D.Inês morreu com um ataque de stress pré-matrimonial agudo. D.Pedro entrou numa melancólica depressão nervosa e apenas o ombro amigo da sua mãe D.Beatriz o conseguiu consolar um pouco.

Assim que sobe ao trono, em 1357, D.Pedro adquire uma segunda personalidade, que se vai vingar dos três funcionários burocratas. De dia, ele é D.Pedro I, o rei que vai colocá-los em tribunal com processos por conduta criminosa e lentidão provocadora de danos morais. De noite, ele veste-se de negro e é “Peter-the-avenger”, escrevendo centenas de processos que envia para a agência matrimonial, sobrecarregando os três funcionários com trabalho extra sobre clientes fictícios. Os efeitos de tal vingança são devastadores: Álvaro Gonçalves morre de enfarte cardíaco, a carimbar papéis; Pêro Coelho apanha um esgotamento nervoso a tentar arquivar processos e fica demente mental para o resto da vida; Diogo Lopes Pacheco consegue escapar porque se encontra em férias numa casa de campo do Ribatejo, mas morre no último dia de descanso, colhido por um touro bravo.

Consumada a vingança, D.Pedro tenta voltar à pacatez da sua vida de rei, que no entanto é quebrada de quando em vez por determinações do Papa, que tinham força legal no país, sem o conhecimento do rei. Para contrariar tal costume medieval, D.Pedro institui o “Beneplácito Régio”, forma de português arcaico para a expressão “bem plácido régio”, ou seja, rei bem descansado, o que significava que não quereria ser apanhado de surpresa por um decreto papal e, por isso, cada intervenção da cúria romana na vida portuguesa teria de ser, primeiro, aceite ou não pelo rei.

Em 1367 sucede-lhe o seu filho D.Fernando e, se por um lado tenta salvar o reino da crise que seu pai não resolvera, por outro, o seu bichinho carpinteiro da conquista começa a rabiar e ele lança-se em guerras com Castela. Em busca de terras para conquistar (e por falta de opções, há que reconhecer), D.Fernando lança-se por três vezes contra os vizinhos castelhanos e por três vezes apanha porrada de três em pipa para contar aos netos.

Umas vezes sozinhos, outras acompanhados pelos ingleses (é desta data a aliança luso-inglesa, a mais antiga do mundo e que tantos problemas nos trouxe mais tarde, só resolvidos no Euro 2004), os portugueses apenas conseguiram fazer com que os castelhanos se chateassem a sério, invadindo o nosso reino e cercando Lisboa durante uns tempos. Só depois, D.Fernando cai em si e passa a ter juízo, pois já tinha idade para isso.

18/09/11

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO (parte II)

Em sequência ao relatado no capítulo anterior (se não se lembra, é favor retroceder e ler), D.Dinis era um dos reis mais amados pelos portugueses. Porquê? Porque além da sua personalidade, tinha a seu lado um verdadeiro anjo da guarda, que era a rainha D.Isabel de Aragão.

O povo e a igreja chamavam-lhe Rainha Santa e é um facto que D.Isabel fazia ,milagres para esticar o orçamento familiar e conseguir alimentar o numeroso agregado. Pois se um rei ganha bem, também é verdade que tem muitas despesas a que fazer face e a sua mesa não era tão farta e rica como o povo supunha. Se havia dias com faustosos banquetes, isso devia-se à gestão doméstica de D.Isabel, de quem diz a lenda transformava rosas em pão, para poder encher a mesa.
Também o ambiente familiar era cheio de tensões. D.Dinis era muito esquisito com a roupa limpa e passada a ferro, gostava de refeições a horas certas e de ler o pergaminho em silêncio. O seu filho, D.Afonso, era rebelde e intratável, invejava os filhos ilegítimos de seu pai e aguardava a feitura do testamento para se assegurar que ficaria com tudo. O irmão de D.Dinis cobiçava-lhe a casa, a mulher e os cavalos, embora tivesse vindo a morrer antes de conseguir qualquer das três coisas. Todas estas disputas familiares foram resolvidas por D.Isabel (que tinha uma paciência de santa), inclusivé a disputa entre pai e filho que no campo de Alvalade ameaçou o país com uma guerra sangrenta. A rainha santa apareceu como um anjo bom, espalhando a concórdia entre as partes e resolvendo a contenda. Apesar disso, um terrível estigma abateu-se sobre todos os campos de Alvalade e, até hoje, os seus proprietários desesperam por algo de bom...

Antes de morrer, em 1325, D.Dinis expressou o seu desejo de ser sepultado num convento em Lisboa. Contudo, a especulação imobiliária levou a que se tornasse incomportável fazer um convento na capital, pelo que, após pesquisas com a Remax, a escolha tenha recaído em Odivelas, onde hoje repousa o seu túmulo. Sobe ao poder o seu filho, D.Afonso IV, que, mantendo seu espírito rebelde e na falta de terras para conquistar aos mouros, lança-se em guerras com quem encontra pela frente. Primeiro, com o seu meio-irmão Afonso Sanches, que o tenta envenenar. Contudo, dado que o veneno não era grande coisa, o máximo que Afonso Sanches consegue é uma violenta cólica intestinal em D.Afonso IV, o que o deixa irritadíssimo (do cólon e de espírito) e com vontade de decapitar seu meio-irmão. Mais uma vez, é a sua mãe, rainha santa Isabel que consegue pôr um fim a esta guerra familiar.

De seguida, este jovem rebelde lança-se sobre Afonso de Castela e também aqui os historiadores têm induzido o povo em erro, quanto aos motivos desta guerra com o reino vizinho. Alguns defendem que a guerra se deu porque o rei de Castela não deixava passar uma moçoila, D.Constança, que já catrapiscava o filho do rei português. Outros avançam com a hipótese que D.Afonso IV se meteu ao barulho porque a sua filha (casada com D.Afonso XI de Castela) sofria de maus tratos em casa, obrigada a lavar tachos e coser meias de sol a sol.

Pois a verdade é outra, e vem contada por Mestre Fernão Lápis, contador-mor do reino, numa crónica recentemente encontrada nas despensas da Torre do Tombo, já meio roída pelos ratos. Ali se descreve que D.Afonso IV se enfureceu ao saber que o rei vizinho lhe plagiara o nome Afonso acrescendo apenas um XI só para ostentar superioridade, o que levou o rei português a declarar-lhe guerra só para limpar esta afronta. Porém, o papa Bento XII serviu de medianeiro e estabeleceu acordos de cessar-fogo entre as partes.

No entanto, um ano depois, já o rei de Castela pedia ajuda ao de Portugal, pois os seus domínios estavam a ser invadidos por um poderosíssimo grupo comercial muçulmano, que tenta alterar os hábitos dos habitantes da Península Ibérica, fazendo-os adoptar na sua alimentação saladas preparadas segundo o Corão, sem carne de porco, mas com tâmaras e cous-cous, entre outros ingredientes. Ora o rei de Castela, católico por tradição, não poderia consentir que a tradicional salada de alface e tomate fosse substituída. Aos castelhanos faltaram tomates para enfrentar a situação como homenzinhos e tiveram de recorrer aos portugueses. D.Afonso IV arma um pequeno mas potente exército e parte em auxílio de D.Afonso XI, falando mais alto o seu sentido de dever do que as desavenças com o genro. E é isso que faz os portugueses darem uma valente coça nos muçulmanos, obrigando-os a recuar para Marrocos. Foi a batalha da Salada em 1340, e nela ficou patente quem tinha audácia e tomates na Península Ibérica.

20/08/11

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Correndo o risco de acabar com uma das características que será imagem de marca de Portugal nos anos vindouros, D.Afonso III decide organizar o Estado. Além de reforçar o seu poder, pretende fiscalizar o autêntico regabofe que os grandes senhores faziam nas conservatórias de registo predial, quanto à posse e autonomia de terras desocupadas. Por um lado, manda realizar inquirições (o Real Instituto de Estatística vai de porta em porta, apurando o que pertence ou não ao rei), por outro, institui as confirmações, onde, após nova coroação, os nobres teriam de comprovar a posse das terras que usufruíam. Escusado será dizer que esta medida provoca enormes filas de espera, onde os nobres, à chuva ou ao sol, perdem um dia ou mais de trabalho para entregar declarações em papel, em carruagens assinaladas com postos móveis da DGCIR-Direcção Geral de Contributos Impostos pelo Rei.

Em 1279 morre D.Afonso III, sucedendo-lhe seu filho D,Dinis. Com bastante olho para o negócio, vulgo espírito de merceeiro, e dado que naquela altura todos os negócios eram rentáveis, D.Dinis lança-se no mercado com todo o entusiasmo: apoia a agricultura sem olhar a subsídios europeus; auxilia a indústria, com incentivos à produção e planos de recuperação para empresas em dificuldades, além de apoiar a fixação de investimento estrangeiro em zonas desfavorecidas; protege o comércio interno criando uma rede de feiras francas (isto é, feiras sem reboliço nem engano, onde se pode comerciar à vontade); ajuda o comércio externo com a criação de empresas import-export aproveitando a passagem obrigatória das rotas marítimas pelo nosso país e fomenta a instrução criando a Universidade de Lisboa, onde as propinas não eram exageradas. Além disso, D.Dinis apoiou bastante os trovadores, pois também elel levava uma vida artística, recitando poesia nas melhores casas de espectáculos, granjeando fama e proveitos, que depois foram aplicados em acções ecológicas apoiadas pela Quercus, como as plantações dos pinhais de Leiria e Azambuja.
A carreira artística de D.Dinis assentava sobretudo em músicas de melodia fácil, que entravam facilmente no ouvido ou em outros orifícios, e que estavam muito em voga na época, como as cantigas de amor ou as cantigas de amigo. As primeiras, apesar de cantadas em português arcaico, podem considerar-se as precursoras dos slows, ouvidas sobretudo em festas de garagem. As cantigas de amigo eram mais populares e podiam falar de tudo o que um homem quisesse, de futebol a fêmeas. É célebre aquele cantar de D.Dinis, com o mais suave sentimentalismo lusíada “Ai flores, ai flores do verde pino(...)”, que só viria a encontrar paralelo na nossa cultura já no séc.XX, com o também mui célebre “Nós pimba, nós pimba (...)”.

É também de destacar o apoio à Marinha, especialmente na construção de navios, tão úteis no transporte de trabalhadores, a partir da Trafaria e do Barreiro, para Lisboa. Contudo, o desenvolvimento da navegação traz problemas como os naufrágios, as retenções em portos estrangeiros e as brigas de marinheiros. Para remediar tais maleitas, D.Dinis cria em 1293 a “Bolsa dos Mercadores”, um alforge de couro escuro destinado a albergar moedas que cobririam as indemnizações em caso de acidente. Era um brilhante sistema de seguros, com preços surpreendentes e prémios bonificados até 50%, actualizados de acordo com o valor de mercado do navio. Para a perfeição, apenas faltava poder ser tratado por telefone o que, atendendo à inexistência do mesmo, não se poderá considerar como defeito.
Este desenvolvimento da navegação e do comércio faz aparecer um novo tipo de parasita na sociedade: o burguês. Trajavam de igual como se tivessem saído de uma linha de montagem, andavam com uma pastinha de cabedal debaixo do braço e eram mestres na arte de bem ver sem muito fazer. Os mais novos eram os chamados “yuppies”, termo anglo-saxão para designar o tipo que dá pulos de contente quando conclui um negócio. Paralelamente, desenvolvem-se na cidade medieval todo o tipo de ofícios: primeiro, os necessários à própria urbe (carpinteiros, pedreiros, calçadores, almeidas e inspectores camarários); depois, os que respondiam às necessidades da população (alfaiates, sapateiros, padeiros, vendedores de lotaria e mulheres de má vida); e por fim, os que estavam ligados aos negócios do luxo (ourives, pintores, esteticistas e cronistas sociais).

Enquanto a sociedade fervilhava, D.Dinis promovia uma guerrinha constitucional com Castela, ocupando algumas terras entre os rios Côa e Douro. Os livros de história têm atribuído estas invasões ao facto do rei português querer definir fronteiras com Castela, o que não é correcto. Na verdade, e demonstrando mais uma vez a sua cultura e visão de futuro, D.Dinis apercebe-se que aquela região é extremamente rica em pinturas rupestres paleolíticas ao ar livre e que, bem aproveitado, o local daria um excelente parque arqueológico no futuro, quem sabe se, substituindo uma barragem. Por isso tratou de garantir a sua posse via Tratado de Alcanizes, em 1297, por engano do rei de Castela, Fernando IV de Castela, que nada sabia do assunto.
Mais ou menos por esta altura, surge a notícia de que o Papa pretende extinguir a Ordem dos Templários por não ser rentável. Perante a ameaça de despedimento de centenas de religiosos, D.Dinis aplica um extraordinário acto de gestão criando a Ordem de Cristo-E.P., passando para ela todos os funcionários e bens dos Templários. Com esta mudança de nome, constituiu-se uma nova sociedade com benefícios fiscais durante os primeiros cinco anos. Brilhante.

10/07/11

UM RETRATO GERAL

Por último falemos do rei, a saída profissional mais aguardada pelos jovens, embora a esmagadora maioria não tivesse acesso a ela. Era bem remunerada, tinha todas as regalias sociais praticadas na época e a reforma era garantida, caso não houvessem golpes palacianos.

Praticava-se a monarquia hereditária, uma forma de governo que se caracteriza por buscar o desenvolvimento económico para a família reinante através do lançamento de impostos. Se um pai fosse rei, os seus filhos teriam, em princípio, o futuro assegurado e se é costume dizer-se que o rei estava no topo da pirâmide social, isso é apenas devido ao facto de ele viver no cimo dos montes (onde geralmente se construíam os castelos), mandando em todos e sendo muito rico. Nada mais.

Quanto à economia, o dinheiro não circulava e os terminais de pagamento automático não funcionavam, por falta de invenção da electricidade. Daqui resulta que o comércio interno era reduzido e baseado na troca directa, o que limitava bastante as pequenas mercearias de bairro, obrigando os lojistas a terem grandes stocks de produtos diferentes para trocarem com os clientes. Existiam outros pequenos comerciantes que se deslocavam de povoação em povoação, fazendo o transporte das suas mercadorias nas suas bestas e que eram apelidados, consoante a zona do país, de malmecremes, almacreves, almocreves, ambulantes ou ciganos.
Para além das dificuldades do negócio, estes comerciantes tinham ainda de suportar as portagens que, estrategicamente, estavam colocadas à saída de castelos, cidades, pontes e vias rápidas. Como não podiam voltar atrás eram obrigados a pagar, caso contrário, ficavam sem mercadorias e animais, o que, por outro lado, os dispensava de pagar portagens em situações futuras. O pagamento era feito em morabitinos, mirabitanos ou murabitinhos, consoante a cotação do dia.
Paralelamente, surgem mercados e feiras, locais onde os mercadores ambulantes podiam vender os seus produtos, os agricultores escoarem os seus tomates e os ciganos a sua roupa de marca Ardidas, Mike e Le Quic Sportuf. Desconhecem-se campanhas eleitorais nestes espaços, no entanto existem já relatos de que carteiristas praticavam a sua arte.

O poder ilimitado do rei, que já vimos, não o era, porém, em todo o lado. Os concelhos com Carta de Foral tinham uma certa autonomia de governação, elegiam os seus juízes e faziam as suas leis. Existia a chamada “assembleia de homens-bons”, eleitos pela população para tratar dos seus problemas. Basicamente, um homem-bom era aquele que deixava um rasto de suspiros por onde passava, com as mulheres, casadoiras ou não, a caírem a seus pés. Como é óbvio, eram mais dados a tratarem da sua pele e a mirarem-se ao espelho, do que a tratar dos problemas da comunidade, o que provocava alguns problemas. Principalmente, entre os pais das virgens solteiras.

Neste período de conquista e alargamento do território, três correntes culturais estiveram na base da formação do “homo lusitanus”, como hoje o conhecemos. Desde logo a cultura cristã, algo primitiva e atrasada (porque foi das últimas a chegar), com pouca luz no seu interior, embora fosse aquela que construísse mais e melhor – no entanto, há que reconhecer, janelas não eram o seu forte.

Deste período há ainda a destacar as principais construções, que adoptavam um estilo muito pesado, originando grandes encargos de orçamentação e grande demora na conclusão dos projectos, algo muito diferente daquilo que se passa na actualidade.
Chamado de estilo românico, caracterizava-se por paredes muito grossas (que não deixavam ouvir o vizinho de cima), poucas janelas adaptadas à coscuvilhice, tectos em abóbadas de berço e arcos redondos (que o são, por definição).

26/06/11

O POVO

O grupo social mais, digamos assim, fraquinho, era o povo, que em geral não possuía terras embora fosse ele a trabalhá-las para garantir o seu sustento, da sua família, dos seus senhores e respectivo agregado. Por tudo isto será correcto afirmar que o povo era o grupo social mais culto, pois trabalhava para alimentar toda a sociedade ignorante de fidalgos que vivia sob o lema “nem só de pão vive o homem”.
Apenas o povo se dava conta que isto não era verdade, sabendo que, caso entrasse em greves e jornadas de luta, a sociedade cairia pela base.

As casas dos camponeses eram geralmente muito modestas, T0 ou T1, sem casas de banho ou salas de estar, com pouca mobília e cheiro a bafio. Como elementos valorativos em termos de IMI, podemos apontar a existência de ar condicionado (pelo tempo que fizesse no exterior), telhados rústicos em colmo e colchões de palha de características ortopédicas, adquiridos via TV-shop. A sua alimentação era à base de pão negro (principalmente, quando ele caía no chão), cebolas, alhos e toucinho, o que dá saúde e vigor, conforme comprova o dr Rogoff. A energia assim adquirida era consumida na agricultura e na pecuária, sobre as quais recaíam as rendas dos senhorios. Vejamos o exemplo de uma passagem do foral de Penacova:

“Aquele que lavrar com dois bois pague um moio; aquele que lavrar trigo ou milho ou centeio dê uma teiga do pão que lavrar (...) o peão dê a dízima do seu vinho (...) os peões façam cubas e casas no castelo de Penacova”.

Por aqui se vê que para pagar todas as suas contribuições, o camponês ficava de pés para a cova, daí o nome da povoação. Além disso, eram obrigados a procurar um dicionário buscando o que seria uma teiga ou um moio, o que equivalia a dizer que os impediam de pagar as suas contribuições a tempo e horas, por via do seu analfabetismo funcional.

A agricultura era rudimentar e, embora aproveitando um recurso natural ainda hoje muito abundante – o estrume – a produtividade era pouca, as alfaias puxadas por bois e os produtos escoados para o estrangeiro nos alforges de burros, o que não permitia grandes apresentações em feiras internacionais.

13/06/11

O CLERO

O outro grupo social de prestígio era o Clero, agregado em dois sub-conjuntos: o clero regular e o secular. O clero regular era constituído pelos que exerciam a religião mais regularmente, pois viviam em mosteiros e a isso eram obrigados, por falta de outras opções de lazer.
Entre eles temos as ordens militares-religiosas, já tratadas nesta obra, e os monges dominicanos (que apenas mugiam ao domingo). Os mosteiros eram dirigidos por um abade, que às refeições era sempre o último a levantar-se e daí a expressão “comer que nem um abade”. Já os monges, vestiam-se todos da mesma maneira, e tornou-se hábito designar com tal o dito cujo.

Quanto ao clero secular, eram assim chamados por serem muito velhos, levando séculos a subir na hierarquia, para chegarem a bispos e cardeais. Para além do serviço religioso, o clero apropriava-se de outras funções, como a assistência a doentes e o ensino, deixando por isso no desemprego milhares de médicos e professores. O sucesso das suas boticas, com remédios feitos a partir de raízes e folhas de plantas, suplantava largamente o atendimento nas caixas de previdência, onde enfermos e peregrinos tinham de suportar horas e horas de espera para uma consulta, com a agravante de por essas alturas não haver ainda o hábito enraizado de ler revistas antigas nas salas de espera.

A educação tinha vários defeitos: funcionava em circuito fechado, isto é, os professores eram do clero e ensinavam os futuros clérigos; não havia lei de bases do sistema educativo; as propinas eram elevadas e o material educativo estava pela hora da morte, pois todos os livros eram edições de luxo, copiados e ilustrados à mão, com folhas de pergaminho e capas de cabedal trabalhado.
Os testes eram muito difíceis, pois eram escritos em latim, o que para a maioria era chinês, embora os monges copistas tivessem sempre boas notas, talvez por defeito de profissão.

Às ilustrações chamavam-se “iluminuras”, o que era um contra-senso, pois geralmente eram feitas quase às escuras, no interior de grandes bibliotecas, o que justifica a qualidade desses desenhos, pois se o monge estava a trabalhar às escuras e não fizesse uma boa iluminura, não conseguiria ver o resto do trabalho.

12/06/11

A NOBREZA

Neste grupo social podemos considerar dois sub-grupos: a Alta Nobreza (ricos homens, com mais de 1,80m, olhos azuis e compridos cabelos louros, que adoravam desfilar na corte com seus gibões de pavão) e a Baixa Nobreza (todos os outros nobres e escudeiros que apenas sugavam o sustento do rei, acompanhando-o para todo o lado nas funções de guarda-costas ou guarda-peitos da rainha). Entre os nobres temos também os infanções, ou seja, os infantes-escanções, encarregues de provar o vinho real.

A maioria dos senhores vivia em castelos, habitando nas torres de menagem, as quais abriam à visita de turistas para excursões guiadas nos feriados. No salão nobre tomavam as refeições, ricas em hidratos de carbono, gorduras monoinsaturadas, triglicéridos e lípidos com fartura; o mobiliário era reduzido e de design minimalista (tipo ikea mas em rústico), e, nos dias frios, acendiam-se lareiras, o que, não dominando ainda o fabrico de chaminés, arte que só chegaria com a conquista completa do Algarve, lhes deixava a roupa impregnada de um aroma a fumeiro, digno de chouriças barrosãs.
A principal ocupação dos nobres era o combate, usando espadas, lanças, maças, escudos, fisgas, pontapé nas canelas e cuspidelas. Cada cavaleiro tinha um escudeiro que, como o próprio nome indica, lhe tratava das finanças e preenchia os recibos verdes, que o seu senhor tinha de emitir em troca dos escudos recebidos pela participação nos combates.
Por vezes, caçavam cervos, ursos, javalis ou camponesas indefesas e, quando o ar livre não o permitia, dedicavam-se a jogos de sala, entre eles o xadrez. Embora não fosse de bom tom, a sua manobra preferida era comer a rainha com o bispo. Para animar o ambiente, existiam os jograis e os trovadores que, acompanhados à viola e ao bandolim, declamavam poemas, cantavam canções e levavam com tomates podres quando a música não agradava aos ouvintes.

01/05/11

ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA * INTRODUÇÃO

Durante esta época de conquistas e reconquistas a sociedade portuguesa foi evoluindo, embora lentamente como é seu apanágio, na sua organização.
Perguntar-se-á se os jovens estudantes terão também de formar o seu conhecimento sobre estas matérias. A resposta é sim, porque mesmo que não tivessem, o contrato obriga os autores desta obra a arranjarem matéria para o máximo de volumes possíveis.

Assim sendo, comecemos pelas guerras contra os mouros, nas quais os reis recebiam muita ajuda de profissionais liberais como os cruzados e os cavaleiros nobres. Estes cavaleiros eram as pessoas mais importantes do reino, por possuírem muitas terras e poderes dados pelo rei e, ainda hoje, mantêm a sua influência no país, nomeadamente, através das Carnes Nobre, SA, produtora de salsichas, fiambres e chourições. Além disso, dado que as guerras eram contra os infiéis, também nelas participavam alguns membros do clero, através das chamadas Ordens Militares-Religiosas.
Dado o carácter fechado que a Santa Sé apresenta até hoje, não é possível sabermos ao certo de que se tratavam estas ordens. Enquanto uns historiadores afirmam que as ordens militares-religiosas eram ordens dadas pelo rei e pelo papa ao mesmo tempo, outros historiadores, certamente menos parvos, apontam estas ordens como sendo constituídas por padres-guerreiros dispostos a defender as igrejas dos ataques dos ladrões. Esta hipótese parece-nos mais verosímil, pois em verdade os padres, monges e frades destas ordens militares-religiosas adoravam uma boa luta onde pudessem dar no canastro aos muçulmanos, tudo, como é óbvio, com boas intenções cristãs.

Não esquecendo o importante papel destas ordens, a maioria dos combatentes cristãos eram homens do povo, sem direitos mas com muitos deveres, que os senhores usavam nas batalhas por constituírem mão-de-obra barata, sem regalias e com contratos precários – o verdadeiro protótipo da geração à rasca – fazendo umas horas extra para ajudar o orçamento familiar ou, caso o senhor estivesse bem disposto, podendo candidatar-se a alguma das bancas deixadas livres pelos muçulmanos.
A principal preocupação dos nossos reis eram as terras recentemente conquistadas, pois se não fossem povoadas e cultivadas, ficariam sujeitas a que os retornados muçulmanos as ocupassem de novo, edificando construções clandestinas que depois seriam muito difíceis de derrubar para os expulsar, e isto já não falando nas bolsas de pobreza que esta ocupação selvagem do território poderia criar nos subúrbios das grandes cidades.

Como as terras conquistadas eram por princípio do rei, a distribuição era feita quer através de leilões imobiliários (como forma de angariar receitas), quer através de doações (embora não dedutíveis em sede de IRS). Para si, o rei reservava certas terras com maior valor imobiliário quer pelos seus recursos quer pela proximidade a grandes vias de comunicação – a estas terras dava-se o nome de Reguengos, como Reguengo do Alviela ou Reguengos de Monsarraz. Os reguengos eram assim as terras do senhor (não aquele que é omnipresente, mas o que é omnipotente).
As terras dadas aos grandes senhores eram conhecidas como senhorios, pois estes apareciam em casa dos aldeões, normalmente até ao dia 8 de cada mês, para recolher as rendas que os colonos lhes deviam. Se estes não pudessem pagar na data acordada, tinham ainda um prazo alargado de um dia, para o fazer, caso contrário, seriam despejados sem aviso prévio. Se os senhores das terras fossem do jet-set, as propriedades também eram conhecidas por honras, devido à honra que os camponeses tinham em poderem trabalhar como escravos para gente tão ilustre, tão in e tão bem, que passava a vida em festas.

Caso as terras pertencessem ao clero, eram chamadas de coutos, o que depois da reforma agrária deu origem a famílias poderosas conhecidas como Coutos. Da evolução genealógica destas famílias, temos hoje dignos representantes como sejam o Couto do ramo da pasta medicinal, ou o Couto do ramo dos Fernandos, que deu grandes centrais de futebol ao país.

Outra forma de povoamento consistia em dar regalias especiais aos homens do povo que para lá quisessem ir, como isenção de sisa, redução de contribuição autárquica, redução de IRS (Imposto para o Rei, dos Súbditos), etc, por meio de uma carta de foral, documento escrito em que se fixavam as regalias e as obrigações (mais estas), dos moradores de determinada povoação. Essa povoação passava a chamar-se concelho, e se fossem bons concelhos, deviam ser seguidos. Os seus habitantes eram conhecidos pelo nome de vizinhos, pelo que, aqueles do povo que ficavam fora dos limites de um concelho e sem os seus benefícios, podiam dizer que “a galinha do meu vizinho é sempre mais gorda do que a minha”. Outras das desvantagens, caso tivessem telhados de vidro, era não convir atirar pedras aos vizinhos.

Genericamente, a sociedade era constituída por três grupos sociais: um alimentava os três, outro rezava pelos dois e o terceiro defendia-se a si próprio. A Nobreza era a classe mais alta de manda-chuvas, logo a seguir ao rei, enquanto o Clero era um partido independente que defendia o Cristianismo Ronaldismo. Já o povo era a classe mais baixa, isto é, as pessoas vulgares e não atraentes.

17/04/11

INDEPENDÊNCIA E ALARGAMENTO (iii)

Como já se disse, D.Afonso II engordou o poder real até morrer, altura em que subiu ao trono, embora com dificuldade, o seu filho D.Sancho II, de treze anos apenas. Este jovem veio a revelar-se como o antepassado cultural dos futebolistas portugueses da actualidade, dadas as suas características, como se pode ler no seguinte texto, da autoria do historiador José Irmão Sem Raiva:

“Quando em campo, D.Sancho II conseguia aliar a sua bravura a uma enorme sabedoria das cousas da guerra. No entanto, os seus dotes de oratória e diplomacia deixavam algo a desejar. Jovem, gostava mais de ir para o campo pelejar, do que ficar a burilar os meandros da política, que o dominam...”

Os senhores feudais, aproveitando-se da pouca habilidade do rei para jogos de palavras, tentavam reaver os antigos poderes, multiplicando desordens internas, sem que D.Sancho II tivesse a coragem política necessária para chamar a polícia de intervenção, não se preocupando com as eleições. Como se sabe, este medo era injustificado, porque na altura nem sequer haviam eleições.

Alguns bispos, pessoas pouco dadas ao forrobodó que se vivia, escrevem uma mensagem para Roma, informando o Papa do que se passa – aquilo a que nós historiadores costumamos designar pelo termo técnico de “queixinhas”. D.Afonso, conde de Bolonha, irmão de D.Sancho II, inventa o termo “força de bloqueio” e começa a fomentar a acção dos descontentes, minando ainda mais o ambiente de guerra civil, onde se formam dois partidos (o do rei e o do infante), que se guerreiam entre si em comícios, manifestações, visitas a praças para distribuir acenos e aventais às peixeiras, colando cartazes nos castelos, etc.

O Papa Inocêncio IV (que pelo nome se percebe não ser muito astuto), desliga os portugueses da obediência a D.Sancho II e indica o irmão como regedor do reino, o que é bastante para que o “Bolonhês” entre em Portugal como “visitador e curador” do reino, o que muito desagrada à Ordem dos Médicos,
que não reconhece o diploma de curador de D.Afonso – ainda e sempre a questão de Bolonha. Vencido e espezinhado pelo irmão, D.Sancho II retira-se para Toledo onde viria a falecer, herdando legalmente a coroa, D.Afonso III. Desta sucessão ao trono e da tareia dada ao irmão, surgirá mais tarde o termo “pisa à bolonhesa”.

A sua governação foi muito útil ao reino, ou pelo menos assim dizem os cronistas pagos por ele. Conquistam-se definitivamente Faro, Albufeira, Tavira, Porches, Ferraris e demais localidades algarvias que nos tornam, hoje, na nação europeia com as fronteiras mais antigas. Pelo meio ficam alguns desaguisados com Afonso de Castela, que tinha planos para incluir o Algarve no seu roteiro turístico de Marbella, Benidorm e Torremolinos. Porém, D.Afonso III desloca-se a Badajoz e consegue dois importantes feitos: primeiro, compra os caramelos desejados por seu bisavô D.Afonso Henriques; segundo, assina um tratado que coloca definitivamente o Algarve do lado de cá da fronteira.

Em 1254, convoca as Cortes de Leiria, onde pela primeira vez o sujo e desmazelado povo tem direito a sentar suas nalgas na assembleia. Estabelece em Lisboa a capital do reino, com grande inveja dos nobres das Antas, desenvolve a indústria e o comércio do sal, exportando para a Europa uns salgadinhos que são um sucesso de vendas. Tendo estudado em França, o rei tem vistas largas, e apercebendo-se na nossa natural tendência para meter água, desenvolve também a indústria naval (submarinos não incluídos).

07/03/11

INDEPENDÊNCIA E ALARGAMENTO (ii)

Assim, em troca de uma desinteressada contribuição paroquial de quatro onças de ouro por ano, o carimbo final foi colocado no processo em 1179, reconhecendo finalmente na bula papal que D.Afonso Henriques era o legítimo rei do legalmente considerado reino de Portugal. Finalmente, chegara o alvará.
Entre 1143 e 1179, D.Afonso Henriques teve de se entreter com outras coisas enquanto aguardava o seu reconhecimento pela Santa Sé e decidiu voltar-se contra os mouros, para os expulsar de vez. Golpes decisivos: Santarém cai em 1147 nas suas mãos, fulminada por um assalto surpresa à mão armada, e logo de seguida, após cerco que durou quase todo o verão, é conquistada Lisboa, com um importante contributo dos Cruzados, que por acaso aqui passavam a caminho da Terra Santa e que foram feitos voluntários à força nesta guerra contra os muçulmanos. Como o próprio nome indica, os cruzados eram nobres cavaleiros adeptos do cruzadismo, charadas e puzzles, que ocupavam o seu tempo em torneios de palavras-cruzadas contra os mouros, ganhando a maior parte das vezes, excepto, quando surgiam palavras começadas por AL.

Para além destes mercados, D.Afonso Henriques conquistou ainda Sintra, Almada, Palmela, Alcácer do Sal, Beja, Évora, Moura, Serpa e Juromenha, rede de postos emissores de onda média e frequência modelada, que deixou de estar sobre influência da moirama infiel. Por estas alturas surge a notícia bombástica de saldos loucos nos armazéns de Badajoz, aonde ocorrem multidões desvairadas em busca de pechinchas, especialmente, caramelos de nata com pinhões.

D.Afonso Henriques parte também à conquista dos armazéns de Badajoz e está presente quando se dá a intervenção policial com vista a dispersar a multidão desordeira que ali se juntara. O rei português é apanhado no meio da confusão, parte uma perna entalado nas portas giratórias do armazém e é levado pela polícia, para identificação na esquadra. Graças ao seu nome, e porque é sogro de Fernando II, rei de Leão, D.Afonso Henriques consegue sair sem registo no cadastro, regressando a Portugal triste e abatido, sem caramelos.

Foi notável a acção deste rei no povoamento, na valorização do poder económico e marítimo do reino e na defesa da vida cultural. Organizou uma esquadra para jogar em torneios contra equipas moiriscas, nomeando como capitão D.Fuas Roupinho, um mestre no jogo em profundidade quer com o pé esquerdo quer com o direito. Fundou os conventos de Santa Cruz em Coimbra e de Alcobaça (este a cargo de S.Bernardo, patrono dos alpinistas alcoólicos), óptimos locais de desenvolvimento da meditação e da doçaria, criando delícias como barrigas de freira e papos d'anjo.

No ano de 1185 viria a falecer o nosso primeiro monarca, curtido pelas batalhas, exausto pelas vigílias, desgastado pela persistência exigida nos negócios e muito aborrecido pela falta de hobbies para a 3ª idade, sendo enterrado juntamente com sua mulher (que também já estava morta), no mosteiro de Stª Cruz.

No trono, sucede seu filho D.Sancho I, que se preocupou mais em contribuir para o aumento da população mundial do que em conquistar terreno aos infiéis. Ainda assim, decidiu avançar para sul, com dois objectivos: fazer recuar os muçulmanos até à ponta da península ibérica, empurrando-os para o mar e afogando os que não sabiam nadar, e obter as terras do Algarve para as férias da nobreza, como importante fonte de receitas para a balança comercial do país.

Assim, toma em seu poder as estâncias balneares de Alvor, Silves, Albufeira, Portimão, Lagos e Monchique, que lhe darão o título de “rei de Portugal e dos Algarves”, encarando já essa zona como uma espécie de enclave nacional sob domínio estrangeiro, especialmente, de turistas ingleses e alemães. Mas a sombra do poder sarraceno não se havia extinguido e D.Sancho vem a perder as praças conquistadas e aquelas que seu pai lhe deixara a sul do Tejo, com excepção de Évora. Este fenómeno de povoações conquistadas mais de uma vez deve-se ao facto de os católicos não colocarem agentes seus nas câmaras de comércio locais e, por isso, a cada ataque dos retornados muçulmanos com os seus produtos de baixo custo, as cidades voltavam a cair sob a influência árabe. Já se sabe como são os consumidores.
Em resumo, face ao território desgovernado que as lutas tinham deixado, o grande mérito de D.Sancho I foi o de desenvolver uma política de fixação, criando povoações novas (ainda que sem o conhecimento oficial da sua esposa), fomentando o investimento estrangeiro e criando PDRs para ordenar o território, tarefa difícil dado o mau karma que sobrevoou o seu reinado, com tremores de terra, inundações, fome e pestes.

Em 1211 sobe ao trono D.Afonso II, preocupado em conseguir o fortalecimento do poder real, enfraquecido com os abusos dos grandes senhores. E conseguiu tamanho fortalecimento, que doze anos depois morria com celulite, hipertensão e colesterol elevado, ficando conhecido como “o gordo”, bem antes de Jô Soares.
Antes disso, convoca para Coimbra as primeiras cortes de que há memória. Porquê este nome? Precisamente porque são precisos cortes (vulgo, tesouradas) no poder dos grandes senhores feudais, que em certos domínios já mandavam mais do que o próprio rei. Ficou para a história como tendo resgatado para o trono real os poderes ilegítimos de grandes capitalistas opressores da classe operária (entre os quais, os seus próprios irmãos), fazendo valer o bem comum e os interesses da pátria acima dos interesses individuais, embora certos historiadores duvidem de idêntico empenho caso não fosse ele próprio o beneficiado com tudo isso.

A marcar o seu reinado ficou também a primeira participação portuguesa numa selecção ibérica de cruzados, cujo seleccionador era D. Afonso VIII de Castela. O jogo foi contra os mouros, em Navas de Tolosa, em 1212, e segundo as crónicas da época os nossos seleccionados distinguiram-se pela bravura em campo, tendo grande influência na vitória obtida.

20/02/11

INDEPENDÊNCIA E ALARGAMENTO (i)

Senhor do poder e manda-chuva dos barões assinalados, após a vitória em S.Mamede, D.Afonso Henriques acha-se na necessidade de cobrar a D.Afonso VII a despesa que este tinha feito aquando da sua passagem por Guimarães, até porque os cobradores estavam a tornar-se cada vez mais violentos para com os devedores faltosos e as suas finanças não davam para mais do que alguns alqueires de gomas.

Só que invadir a Galiza e enfrentar os exércitos de D.Afonso VII não era tarefa fácil, para mais com o rei de Leão a jogar em casa. Afigurava-se um caso bicudo, e vai daí, bicudo faz lembrar cornos, que faz lembrar bois, que lembra touradas, que lembra pegas de cernelha. Foi esta associação de ideias que levou D.Afonso Henriques a enfrentar e a vencer os leoneses com uma arrojada técnica de combate que consistia em agarrar o adversário pelo fio do lombo, naquela que ficou conhecida como a Batalha de Cernelha, em 1137.

Porém, o príncipe português não teve sequer tempo de organizar uma comemoração na taverna real porque a sul, os Mouros atacavam os seus domínios, irrompendo no mercado com uma força avassaladora, colocando pilhas, relógios, máquinas calculadoras, jogos e lanternas a preços verdadeiramente imbatíveis. Conquistam os mercados de Leiria e de Tomar, com as suas bancas ilegais que prejudicam o comércio tradicional e o nosso D.Afonso vê-se obrigado a pedir tréguas ao rei de Leão, no tratado de Tui, para poder ter as mãos livres para reprimir a ameaça moura na fronteira meridional.

Organizadas as tropas, emparelhados os cavalos e consoladas as viúvas, D.Afonso Henriques parte para o Alentejo, a defender as suas fronteiras ameaçadas, já que os alentejanos nada fazem para conter as invasões Sarracenas, preferindo dormir o dia inteiro à sombra dos chaparros que cobriam profusamente aquela região. O exército de vendedores infiéis era muito poderoso e contava com a orientação de cinco delegados sindicais muito hábeis na defesa dos direitos dos seus trabalhadores, o que mesmo assim não evitou a sua derrota completa, já que a forma de diálogo preferida por D.Afonso Henriques era a situada na ponta da espada.

Foi na batalha de Campo de Ourique que, segundo conta a tradição, houve um milagre no qual Cristo terá aparecido em sonhos a D.Afonso, antes da batalha, prometendo-lhe vitória cristã. Daí, as cinco chagas terem sido bordadas na bandeira portuguesa, após essa vitória. Por amor à verdade histórica, único lema que nos rege, não podemos pactuar com esta lenda até porque ela prefigura um caso de favorecimento do árbitro, antes do jogo. Na verdade, os sonhos vitoriosos de D.Afonso Henriques devem-se à ingestão de cogumelos silvestres e alucinógenos, que por lapso lhe foram parar ao prato. Quanto às cinco pintas vermelhas na bandeira, representam nada mais nada menos do que os cinco delegados sindicais mouros, de tendência comunista.
Vencida esta ameaça, D.Afonso Henriques, que já se auto-intitulava rei de Portugal, comummente aceite por falta de alternativas, pega no tratado de Tui (que havia sido escrito a lápis) e apaga-o, invadindo de novo a Galiza (esta fixação obsessiva pela Galiza é algo que, infelizmente, as modernas técnicas de psicanálise ainda não conseguiram explicar) e desafiando D.Afonso VII para um torneio de bridge em Arcos de Valdevez.

O torneio foi um sucesso de participações, em parte devido à boa organização e em parte pelo apelativo prize-money do título de independência para Portugal, que D.Afonso Henriques ganhou brilhantemente. Face a mais esta derrota e porque, na verdade, a soberania sobre tão insignificante território não valia todas as chatices e maçadas que o príncipe português lhe trazia, o rei de Leão decidiu assinar um convénio em 1143, dando independência ao condado, que se passou a chamar reino. Foi o tratado de Zamora-Machel, nome pelo qual ficaria também conhecido, já no séc. XX, o primeiro presidente de Moçambique independente.

Contudo, o processo de reconhecimento de independência de um país comportava uma tremenda carga burocrática, cujo ponto alto era a confirmação dada pelo papa. Foram necessárias toneladas de atestados, certidões, impressos, declarações, carimbos e assinaturas que apenas levaram cerca de 36 anos a conseguir reunir, graças aos bons ofícios prestados pelo arcebispo de Braga, D.João Peculiar (assim chamado devido ao enorme pecúlio amealhado com os dízimos cobrados ao povo), que intercedeu junto do papa Alexandre III, de modo a acelerar o processo.

13/02/11

O CONDADO PORTUCALENSE (parte II)


Foi durante um desses passeios nocturnos, que D.Afonso Henriques lhe pregou mais uma das suas partidas. Estando D.Afonso VII entretido com uma camponesa num palheiro (não se estranhe os bizarros entretenimentos da realeza, pois temos de enquadrar as acções no seu tempo), o jovem Afonso roubou-lhe as ceroulas, que viriam a aparecer no dia seguinte penduradas no pau da bandeira da torre principal do castelo. O rei de Leão enfureceu-se de tal modo que quase sovou a golpes de cinto o seu endiabrado primo, no que foi detido pelo tutor do jovem príncipe, Egas Moniz.
O tutor responsabilizou-se pelo futuro bom comportamento do rapaz, e D.Afonso VII, farto de tantas partidas, decidiu voltar para o seu reino, não sem antes obrigar a que D.Afonso Henriques fosse, ele próprio, entregar lá a casa as chaves do condado Portucalense.

Mas D.Afonso Henriques não cumpriu a promessa e Egas Moniz teve de partir com a família para Toledo, de modo a apresentar desculpas públicas ao rei de Leão. Egas Moniz estava tão nervoso que deu um nó górdio na gravata, que lhe cortava a respiração, e como teve de aguardar imenso tempo na sala de espera das audiências reais, já quase sufocava quando o rei o recebeu. Perante tal acto de honradez e resistência à falta de ar, Afonso VII perdoa o primo e manda Egas Moniz em paz. Este nobre cidadão viria alguns séculos mais tarde a ganhar o primeiro prémio Nobel da medicina para Portugal e a ter direito a figurar nas notas de cinco mil escudos, numa singela homenagem do povo a um dos seus mártires. Há quem diga que era outro o Egas, mas não era.

Após este episódio, Afonso Henriques livrou-se da ameaça mas não se livrou da malandrice e foi durante uma das suas viagens exploratórias que veio a encontrar D.Teresa em atitudes e posturas pouco reais, na cama com um fidalgo galego de seu nome Fernão Peres de Trava. Ladino e esperto que nem um alho, o jovem Afonso viu que estava ali a sua oportunidade para alcançar a almejada independência e ameaçou a mãe, em como contaria tudo aos jornais, se ela não satisfizesse as suas pretensões.
D.Teresa compreendeu que, maior que o escândalo de aparecer na 1ª página do Correio-Mor da Manhã, seria a notícia da sua relação bastante próxima a um fidalgo estrangeiro (ainda por cima, galego!), o suficiente para fazer explodir o coração de um povo desejoso de independência e, por isso, fez as vontades ao filho.

Aproveitando os seus 17 anos, D.Afonso Henriques exigiu um aumento na mesada, permissão para chegar a casa mais tarde, um conjunto de cavalos de marca, o direito a receber em seus aposentos quem muito bem entendesse e, de bónus, a governação do condado. D. Teresa a tudo disse que sim, no entanto, quando se apanhou livre da chantagem do filho, fingiu-se esquecida da promessa de lhe entregar o condado. O caso viria ainda a originar várias discussões entre mãe e filho, até que numa noite fria de 1128, D.Afonso Henriques rodeou-se da sua pandilha de cavaleiros amigos e foi até ao jardim público de S,Mamede, onde sua mãe e o galego Fernão Peres de Trava estavam praticando actos libidinosos.

O casal de pombinhos levou um arraial de porrada de meia-noite (mais concretamente, das onze e cinquenta, segundo iluminuras da época) e foi já com os dois olhos hematomizados, que D.Teresa passou o governo do condado para as mãos do filho, sendo depois levada como refém para o castelo de Lanhoso.

Quanto ao galego, escapou-se de fininho assim que viu “o mar mais alto do que a terra”, levando com ele todo o seu grupo. Os portugueses tinham ganho o direito ao seu próprio governo, sem influência de estrangeiros, caso raro na história futura. Agora, com o seu grupo de camaradas e um povo inteiro à sua volta, vai um jovem príncipe, cheio do fogo do amor pela sua pátria (aquele que arde sem se ver), e senhor de um génio militar e político só comparável com ele próprio, talhar golpe a golpe os alicerces da grandeza futura de Portugal.

16/01/11

O CONDADO PORTUCALENSE

A partir das Astúrias, os Cristãos partem em busca do terreno perdido numa operação com o nome de código “Reconquista Cristã”. De início, esta operação foi muito demorada e difícil, pois os Árabes eram mais do que as mães de Alá (e mais fortes no ombro a ombro). À custa de muitas lutas e porque o terreno os favorecia (pois reconquistaram de norte para sul, a descer), os Cristãos alargaram a zona que lhes pertencia, formando vários reinos pelo caminho.

Para ajudar os reis cristãos nestas tarefas, vinham um pouco de toda a Europa os cruzados, os quais eram profissionais liberais na arte de cavalgar e dar no coiro dos mouros. Trabalhavam a recibo verde para quem precisasse de conquistar terras e, por isso, se um rei ganhasse terreno aos infiéis à custa do trabalho dos cruzados, deveria pagar-lhes dando-lhes as suas partes (sem segundos sentidos, obviamente), isto é, terras para eles governarem em seu nome – os condados.
Atraídos por tais benesses, os cruzados adoptavam uma táctica de guerra com resultados quase garantidos, a chamada táctica do triângulo (em ilustração anexa), em que um cruzado jogava avançado em cunha e os restantes flanqueavam-no, para assim melhor penetrarem em terreno inimigo. Dois destes nobre profissionais liberais que muito terreno conquistaram, eram os fidalgos franceses D.Raimundo e D.Henrique de Borgonha (este, com mais sentido do dever e borgonha na cara).

Contudo, o rei de Leão, D.Afonso VI, para quem eles trabalhavam, entendeu que os dois cavaleiros não teriam cumprido os objectivos mínimos do serviço, e por isso decidiu castigá-los casando-os com as suas filhas solteironas. D.Raimundo desesperou quando soube que lhe tinha calhado em sorte uma esposa com o nome de D.Urraca.
D.Henrique ficou menos mal, calhando-lhe D.Teresa e recebendo como dote o Condado Portucalense. Impõe-se perguntar como terá surgido o nome do Condado. Existem várias teorias acerca do assunto, embora aquela que mais votos colheu na sondagem efectuada na Sociedade Secreta de Historiadores Anónimos, aponte para a existência na margem esquerda do rio Douro, de uma pequena povoação de nome Cale (onde hoje se situará Gaia), na qual existia um Portus (nome romano para o local onde desembarcavam mercadorias).
De Portus e Cale, parecem derivar os nomes de Portucalense e Portugal, embora por esta teoria, devamos dar graças ao Senhor por não terem fundado um condado em terras vizinhas daquela, como Valadares, Melres ou Labruge, o que nos colocaria hoje a viver em Valadaral, Melral ou Labrujal.
São, contudo, teorias especulativas. O que interessa é que em 1096 D.Henrique de Borgonha recebe a mão de D.Teresa, o resto do seu corpo e, por acréscimo, o Condado Portucalense. O conde viveu uma vida cheia, pois por um lado tinha como ambição tornar o seu condado independente (o que não veio a conseguir), e por outro, a sua ardente fé religiosa levava-o a passar a vida em viagens, romarias, peregrinações e congressos da fé. Ora isto obrigava D.Teresa a passar longos períodos sozinha no castelo de Guimarães e, como já dizia o povo naquela altura, “patrão fora, dia santo na loja”...

Há quem diga que foi por causa dessas actividades de tempos livres que D.Henrique morreu de desgosto, embora a maior parte dos psicanalistas defenda que foi por frustração de não conseguir a independência para o condado. Trata-se de um assunto que só o próprio poderá confirmar ou não, se a isso estiver disposto.
Por morte de D.Henrique, D.Teresa assume os comandos do condado, pois o seu filho, D.Afonso Henriques, tem apenas três anos de idade, o que é insuficiente para tirar a licença de condução de condados. Continuando as suas diatribes de viúva alegre, D.Teresa vai mesmo assim a fortalecer o condado rumo à autonomia, quer guerreando os mouros, quer entrando em habilidosos jogos diplomáticos com a corte de Leão, tais como o Trivial Pursuit, o Monopólio ou mesmo o Scrabble.

Em 1127, o rei de Leão, D.Afonso VII, sobrinho de D.Teresa, tem um sonho em que se vê a governar toda a península Ibérica. Para o conseguir, envia por pombo-correio uma mensagem a D.Teresa exigindo que esta lhe entregue as chaves do condado. Infelizmente (para o pombo, claro), este não chega ao seu destino pois o jovem D.Afonso Henriques apanha-o numa tarde de tiro ao alvo, quando o animal passa em frente ao ponto de mira. Sem o saber, Afonso Henriques dá um pequeno passo para si, ao comer o pombo ao jantar, mas um grande passo para a alteração do curso da história deste país.

Irritado por não obter resposta às suas exigências, D.Afonso VII vem de armas e bagagens instalar-se no castelo de Guimarães, ameaçando que dali não sairá sem levar a submissão dos portucalenses. D.Teresa indignada com tamanha falta de delicadeza, recusa-se a dar-lhe as chaves (do condado e do cinto de castidade). E assim se foram passando os dias, com Afonso VII e sus muchachos instalados em casa alheia, comendo que nem uns alarves, levando à bancarrota a despensa do castelo.
De dia, o rei de Leão comia e aguentava as diabruras do jovem Afonso Henriques. De noite, Afonso VII vagueava pela escuridão em busca da figura que, segundo reza a lenda, tinha mandado construir o castelo no ano de 929 : a figura mítica de Mumadona Dias (esclareça-se que “Mumadona” é o equivalente em português arcaico ao actual “mamalhuda”, daí o interesse do rei em encontrá-la).

02/01/11

PRIMEIROS POVOS - O RESUMO

Aqui fica então um pequeno resumo dos primeiros povos habitantes do espaço lusitano:

- IBEROS : foram os primeiros a chegar à Península, e como não havia provas de anteriores proprietários, deram o seu nome à terra. Eram muito atrasados em civilização, tiravam burriés do nariz com a ponta da unhaca e cheiravam mal dos pés, cobriam-se de peles de animais, nomeadamente deles próprios e dormiam em cavernas de poucas estrelas.

- CELTAS : pensa-se que eram originários da Gália, embora outros historiadores afirmem que eles vinham de Glasgow, na Escócia, sendo adeptos do Celtic. Viviam também em estado de comunhão com a Natureza, sendo os precursores do campismo selvagem, montando cabanas circulares de pedra, grosseiras, cobertas de palha, onde quer que lhes apetecesse. Juntaram-se aos Iberos (especialmente às Iberas) nas noites frias de Inverno, e da brincadeira resultaram os Celtiberos.

- LUSITANOS : uma das tribos descendentes dos Celtiberos e que, por isso, herdaram virtudes e defeitos dos dois povos. Eram aguerridos e valentes, embora algo estúpidos, pois podiam ter começado a conquistar mais cedo, poupando imenso trabalho aos futuros reis de Portugal. Viviam da caça, da pesca e da recolha de frutos silvestres, o que lhes proporcionava uma dieta equilibrada.

- FENÍCIOS : povo marítimo, que acrescentou à nossa identidade o hábito de meter água. Fixaram-se no litoral e dedicaram-se ao comércio, vendendo perfumes, madeiras e papiros em troca de estanho, prata e ouro, numa forma de comércio altamente vantajosa perante otários, conforme se pôde confirmar mais tarde no comércio português com África. Introduziram técnicas de mercado, como o fabrico em série e a venda a crédito, embora sem a proliferação de cartões automáticos que se assiste hoje em dia.

- GREGOS : foram poucas as suas influências na nossa identidade, dado que se viram gregos para cá chegar derivado à distância, o que até nem foi mau de todo, pois safámo-nos de aturar uma quantidade industrial de filósofos. Seguiram as pisadas dos Fenícios, montando pequenas colónias junto ao mar, o que deu origem ao aparecimento da chamada “água de colónia”.

- CARTAGINESES : tem-se considerado que vieram do norte de África para controlar todo o comércio da península. No entanto, escavações ultra-secretas feitas no sub-solo da zona sobre a qual assenta Lisboa, revela que os cartagineses eram chineses carteiristas que actuavam preferencialmente nos túneis do metro em hora de ponta, tornando-se muito ricos e com isso fomentando a cobiça e inveja do império romano.

- ROMANOS : muito civilizados, ambiciosos e adeptos do monopólio, não descansaram enquanto não dominaram toda a península Ibérica. Impuseram a sua moeda,a sua língua e, duas vezes por ano, lançavam colecções de vestuário e calçado, em desfiles muito apreciados e que deram à moeda romana um grande prestígio, nem sequer manchado pelo facto de assassinarem à traição Viriato e Sertório, chefes das associações comerciais lusitanas.

- BÁRBAROS : foram vários os povos que, sob este nome, vieram fazer a vida negra aos romanos, derramando sangue a rodos, o que sujava as carpetes com nódoas muito difíceis de tirar. Entre eles estão os Vândalos (hooligans do pior que havia, criadores do hooliganismo enquanto corrente estética); os Suevos (suecos novos, altos, loiros e toscos para o jogo da bola); os Alanos (cujo nome é a junção de “Ala” e “nós”, ou seja, ala que se faz tarde, aí vamos nós – atacavam sempre em grupo); os Lombardos (filhos da Lombardia e criadores da couve com o mesmo nome); os Visigodos (do arcaico “vis” mais “gordos”, isto é, maus e gordos; sendo brutamontes maléficos, eram de tendência ariana, logo neo-nazis, e após as conquistas comandadas por Teodorico, nos deixaram nomes próprios como Adalberto, Brunilde ou Cremilde, que fazem a felicidade dos padrinhos na hora do baptismo); os Ostrogodos (igualmente gordos mas cujo nome deriva de “ostra”, devido a serem tão fechados sobre si mesmos, não permitindo que se conheça muito sobre eles).

- MUÇULMANOS : tal como os chineses viriam a adorar Mao-Tse Tung e os portugueses o Mau-Maria, os mouros veneravam Mao-mé. Deixaram-nos ficar a al-face, o al-moço, a al-mofada, a figueira, a laranjeira, a bússola e algumas outras coisas, que ficaram pelo caminho durante a fuga aos cristãos. Diz o Corão “Combatei pela causa de Deus (...) Crentes! Não os matastes, Deus os matou. Não atiras quando atiras, Deus é quem atira”. No entanto, quando os cristão começaram na reconquista, verificaram que Deus não podia atirar em tantos, e decidiram retirar.
 
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