17/03/12

A COSTA AFRICANA (II)

D.Afonso V tinha pouco mais de seis anos, quando o seu pai D.Duarte morreu, por isso a regência ficou a cargo de seu tio D.Pedro, o das “sete partidas do mundo”, que passava o tempo em viagens entre a Europa, a Ásia e África, costume, aliás, que viria a ser copiado por presidentes da república em finais do séc. XX. Quando D.Afonso V fez os catorze anos (e já com buço), as Cortes decidiram que era melhor ter um rei na puberdade do que um rei em parte incerta e entregam-lhe as rédeas do poder. Durante este período de transição, D.Henrique continuou à frente da sua empresa e estabeleceu novos destinos tropicais: em 1441 o Cabo Branco, graças ao guia Nuno Tristão que, apesar de tristonho, consegue estabelecer nova rota para a foz do Senegal, em 1445; no mesmo ano a agência abre filial no seu novo destino, a Guiné.

Controlando o monopólio comercial e aproveitando-se das personalidades um pouco néscias dos habitantes locais, D.Henrique estabelece as suas pousadas e, ao mesmo tempo, funda as feitorias (feiras de turismo) onde vende aos locais sal, trigo, bugigangas, tapetes e mantas dos ciganos, recebendo em troca ouro, marfim e malagueta. Com tais lucros, alcança os lugares cimeiros da lista dos mais ricos da revista Fortune, optando por investir tudo na sua agência, que consegue assim o necessário capital próprio para a sua expansão.

Também dotado para os negócios, o seu sobrinho D.Afonso V lança-se no mercado da alfarroba, vagem adocicada e nutritiva altamente consumida pelos vegetarianos, conseguindo obter em pouco tempo uma posição de destaque. O problema é que o grande industrial do negócio era D.Pedro, seu tio e sogro (pois D.Afonso V casou com a sua prima D.Isabel, sem olhar às estatísticas de mal-formações em rebentos de casamentos consanguíneos). A luta pelo mercado da alfarroba desenvolveu ódios figadais entre os dois e as várias batalhas comerciais de redução de preços e facilidades de crédito entre tio e sobrinho, terminaram com a vitória deste último naquela que ficou conhecida como a “Batalha da Alfarrobeira”, em 1449.

Em destinos turísticos, 1460 marca o início das caravelas-charter para o arquipélago de Cabo Verde, destino bastante requisitado devido às suas praias e camarão a preços acessíveis. Por estas alturas, o peso dos anos leva D.Henrique na sua última viagem até ao apeadeiro da Eternidade, mas fica de pé um empreendimento de tal forma fundamental para a marcha do mundo, que não pode ser abandonado. A Agência Náutica de Sagres é líder mundial do sector, recebe pedidos do estrangeiro e é motivo de admiração para todos, pelo que os reis de Portugal chamam a si a direcção da empresa e a sua expansão continua a espantar gestores estrangeiros e a servir de case-study em diversas universidades.

Fernão Gomes estabelece delegação na Costa da Mina (que se veio a revelar uma mina de turistas), João de Santarém abre ligação para as ilhas de S.Tomé e Príncipe em 1470, Fernando Pó (o drogado) chefia a delegação na ilha do Pó (destino infeliz, devido ao excesso do dito) e em 1472 Álvares Cabral guia a primeira excursão de reformados para lá do Equador. D.Afonso V concorda com o estabelecimento desses destinos, mas como é uma pessoa nova, apresenta novas ideias para o desenvolvimento do turismo terrestre, argumentando que os passeios pedestres, radicais e ecológicos, são um nicho de mercado com grande potencial. Estabelecem-se assim novos destinos africanos no interior de Marrocos que, conforme se viria a confirmar, foram apostas de sucesso.

Em 1458 inaugurou-se o roteiro de Alcácer-Ceguer, destinado a habitantes de Alcácer do Sal; em 1471 foi o ano gordo, com a abertura de filiais em Arzila (com aplicações da dita sobre a pele, para efeitos medicinais), Tânger (cumprindo o sonho de seu tio, para oferecer sumo de tangerina mais barato aos seus clientes) e Larache (terra de grandes carnavais). Perante isto, os soberanos portugueses passaram a ostentar o título de “Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África”, o que, como se compreende, levou a que se gastasse uma pequena fortuna na feitura de novos cartões de visita, com extensão acima do normal.

D.Afonso V viu-se metido em problemas, em 1476, por causa de complicações fronteiriças. Os camponeses castelhanos, até aí dedicados à agricultura e porcoária (só de porcos), resolveram voltar-se para os bovinos bravios, com vista ao estabelecimento das corridas de touros. Um dos animais pulou a fronteira e causou grandes prejuízos nas hortas dos portugueses raianos, o que eles tomaram como sendo uma declaração de guerra e um aviso de invasão. Valentes e destemidos, os portugueses armados de varapaus, picaretas e forquilhas (e alguns armados em parvos, também) partiram para Castela, visando dar uma lição a nuestros hermanos. Só que, desconhecendo o caminho para as quintas, calharam de atalhar pelos baldios onde pastavam os bois bravos que, ao verem gente intrusa, carregaram sobre os portugueses aflitos e desamparados.

No meio da confusão gerada, tornou-se célebre o alferes Duarte de Almeida, o decepado, a quem foi confiada a bandeira portuguesa. Os bois em fúria trucidaram-no, decepando-lhe as mãos com os seus cascos, após o que Duarte de Almeida a segurou entre os dentes, só a largando quando, exausto de forças, caiu numa valeta para não mais se levantar, sendo o estandarte recuperado e posto a salvo por Gonçalo Pires.
Para evitar mais problemas fronteiriços, D.Afonso V ordenou que, a partir dessa data, que ficou conhecida como a da Batalha do Touro, a fronteira fosse totalmente vedada com arame farpado. Assim se fez e não mais surgiram problemas semelhantes.

Quando começou a reinar, em 1481, D.João II enfrentou dois grandes problemas: por um lado, as finanças do reino eram poucas e, por outro, as regalias dadas por seu pai à nobreza, faziam dela uma classe demasiado privilegiada. Encantado com as histórias de Robin Hood, que era já uma lenda em Inglaterra, D.João II decide copiar-lhe o modo de actuação, roubando aos ricos para dar aos pobres (que neste caso era ele, dado o estado das finanças do Estado). Assim tratou de tirar aos fidalgos certas regalias como os descontos na barbearia real, os empréstimos a juros bonificados ou o espaço reservado para estacionamento de coches no seu palácio.
 
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