20/08/11

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Correndo o risco de acabar com uma das características que será imagem de marca de Portugal nos anos vindouros, D.Afonso III decide organizar o Estado. Além de reforçar o seu poder, pretende fiscalizar o autêntico regabofe que os grandes senhores faziam nas conservatórias de registo predial, quanto à posse e autonomia de terras desocupadas. Por um lado, manda realizar inquirições (o Real Instituto de Estatística vai de porta em porta, apurando o que pertence ou não ao rei), por outro, institui as confirmações, onde, após nova coroação, os nobres teriam de comprovar a posse das terras que usufruíam. Escusado será dizer que esta medida provoca enormes filas de espera, onde os nobres, à chuva ou ao sol, perdem um dia ou mais de trabalho para entregar declarações em papel, em carruagens assinaladas com postos móveis da DGCIR-Direcção Geral de Contributos Impostos pelo Rei.

Em 1279 morre D.Afonso III, sucedendo-lhe seu filho D,Dinis. Com bastante olho para o negócio, vulgo espírito de merceeiro, e dado que naquela altura todos os negócios eram rentáveis, D.Dinis lança-se no mercado com todo o entusiasmo: apoia a agricultura sem olhar a subsídios europeus; auxilia a indústria, com incentivos à produção e planos de recuperação para empresas em dificuldades, além de apoiar a fixação de investimento estrangeiro em zonas desfavorecidas; protege o comércio interno criando uma rede de feiras francas (isto é, feiras sem reboliço nem engano, onde se pode comerciar à vontade); ajuda o comércio externo com a criação de empresas import-export aproveitando a passagem obrigatória das rotas marítimas pelo nosso país e fomenta a instrução criando a Universidade de Lisboa, onde as propinas não eram exageradas. Além disso, D.Dinis apoiou bastante os trovadores, pois também elel levava uma vida artística, recitando poesia nas melhores casas de espectáculos, granjeando fama e proveitos, que depois foram aplicados em acções ecológicas apoiadas pela Quercus, como as plantações dos pinhais de Leiria e Azambuja.
A carreira artística de D.Dinis assentava sobretudo em músicas de melodia fácil, que entravam facilmente no ouvido ou em outros orifícios, e que estavam muito em voga na época, como as cantigas de amor ou as cantigas de amigo. As primeiras, apesar de cantadas em português arcaico, podem considerar-se as precursoras dos slows, ouvidas sobretudo em festas de garagem. As cantigas de amigo eram mais populares e podiam falar de tudo o que um homem quisesse, de futebol a fêmeas. É célebre aquele cantar de D.Dinis, com o mais suave sentimentalismo lusíada “Ai flores, ai flores do verde pino(...)”, que só viria a encontrar paralelo na nossa cultura já no séc.XX, com o também mui célebre “Nós pimba, nós pimba (...)”.

É também de destacar o apoio à Marinha, especialmente na construção de navios, tão úteis no transporte de trabalhadores, a partir da Trafaria e do Barreiro, para Lisboa. Contudo, o desenvolvimento da navegação traz problemas como os naufrágios, as retenções em portos estrangeiros e as brigas de marinheiros. Para remediar tais maleitas, D.Dinis cria em 1293 a “Bolsa dos Mercadores”, um alforge de couro escuro destinado a albergar moedas que cobririam as indemnizações em caso de acidente. Era um brilhante sistema de seguros, com preços surpreendentes e prémios bonificados até 50%, actualizados de acordo com o valor de mercado do navio. Para a perfeição, apenas faltava poder ser tratado por telefone o que, atendendo à inexistência do mesmo, não se poderá considerar como defeito.
Este desenvolvimento da navegação e do comércio faz aparecer um novo tipo de parasita na sociedade: o burguês. Trajavam de igual como se tivessem saído de uma linha de montagem, andavam com uma pastinha de cabedal debaixo do braço e eram mestres na arte de bem ver sem muito fazer. Os mais novos eram os chamados “yuppies”, termo anglo-saxão para designar o tipo que dá pulos de contente quando conclui um negócio. Paralelamente, desenvolvem-se na cidade medieval todo o tipo de ofícios: primeiro, os necessários à própria urbe (carpinteiros, pedreiros, calçadores, almeidas e inspectores camarários); depois, os que respondiam às necessidades da população (alfaiates, sapateiros, padeiros, vendedores de lotaria e mulheres de má vida); e por fim, os que estavam ligados aos negócios do luxo (ourives, pintores, esteticistas e cronistas sociais).

Enquanto a sociedade fervilhava, D.Dinis promovia uma guerrinha constitucional com Castela, ocupando algumas terras entre os rios Côa e Douro. Os livros de história têm atribuído estas invasões ao facto do rei português querer definir fronteiras com Castela, o que não é correcto. Na verdade, e demonstrando mais uma vez a sua cultura e visão de futuro, D.Dinis apercebe-se que aquela região é extremamente rica em pinturas rupestres paleolíticas ao ar livre e que, bem aproveitado, o local daria um excelente parque arqueológico no futuro, quem sabe se, substituindo uma barragem. Por isso tratou de garantir a sua posse via Tratado de Alcanizes, em 1297, por engano do rei de Castela, Fernando IV de Castela, que nada sabia do assunto.
Mais ou menos por esta altura, surge a notícia de que o Papa pretende extinguir a Ordem dos Templários por não ser rentável. Perante a ameaça de despedimento de centenas de religiosos, D.Dinis aplica um extraordinário acto de gestão criando a Ordem de Cristo-E.P., passando para ela todos os funcionários e bens dos Templários. Com esta mudança de nome, constituiu-se uma nova sociedade com benefícios fiscais durante os primeiros cinco anos. Brilhante.
 
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