26/06/11

O POVO

O grupo social mais, digamos assim, fraquinho, era o povo, que em geral não possuía terras embora fosse ele a trabalhá-las para garantir o seu sustento, da sua família, dos seus senhores e respectivo agregado. Por tudo isto será correcto afirmar que o povo era o grupo social mais culto, pois trabalhava para alimentar toda a sociedade ignorante de fidalgos que vivia sob o lema “nem só de pão vive o homem”.
Apenas o povo se dava conta que isto não era verdade, sabendo que, caso entrasse em greves e jornadas de luta, a sociedade cairia pela base.

As casas dos camponeses eram geralmente muito modestas, T0 ou T1, sem casas de banho ou salas de estar, com pouca mobília e cheiro a bafio. Como elementos valorativos em termos de IMI, podemos apontar a existência de ar condicionado (pelo tempo que fizesse no exterior), telhados rústicos em colmo e colchões de palha de características ortopédicas, adquiridos via TV-shop. A sua alimentação era à base de pão negro (principalmente, quando ele caía no chão), cebolas, alhos e toucinho, o que dá saúde e vigor, conforme comprova o dr Rogoff. A energia assim adquirida era consumida na agricultura e na pecuária, sobre as quais recaíam as rendas dos senhorios. Vejamos o exemplo de uma passagem do foral de Penacova:

“Aquele que lavrar com dois bois pague um moio; aquele que lavrar trigo ou milho ou centeio dê uma teiga do pão que lavrar (...) o peão dê a dízima do seu vinho (...) os peões façam cubas e casas no castelo de Penacova”.

Por aqui se vê que para pagar todas as suas contribuições, o camponês ficava de pés para a cova, daí o nome da povoação. Além disso, eram obrigados a procurar um dicionário buscando o que seria uma teiga ou um moio, o que equivalia a dizer que os impediam de pagar as suas contribuições a tempo e horas, por via do seu analfabetismo funcional.

A agricultura era rudimentar e, embora aproveitando um recurso natural ainda hoje muito abundante – o estrume – a produtividade era pouca, as alfaias puxadas por bois e os produtos escoados para o estrangeiro nos alforges de burros, o que não permitia grandes apresentações em feiras internacionais.

13/06/11

O CLERO

O outro grupo social de prestígio era o Clero, agregado em dois sub-conjuntos: o clero regular e o secular. O clero regular era constituído pelos que exerciam a religião mais regularmente, pois viviam em mosteiros e a isso eram obrigados, por falta de outras opções de lazer.
Entre eles temos as ordens militares-religiosas, já tratadas nesta obra, e os monges dominicanos (que apenas mugiam ao domingo). Os mosteiros eram dirigidos por um abade, que às refeições era sempre o último a levantar-se e daí a expressão “comer que nem um abade”. Já os monges, vestiam-se todos da mesma maneira, e tornou-se hábito designar com tal o dito cujo.

Quanto ao clero secular, eram assim chamados por serem muito velhos, levando séculos a subir na hierarquia, para chegarem a bispos e cardeais. Para além do serviço religioso, o clero apropriava-se de outras funções, como a assistência a doentes e o ensino, deixando por isso no desemprego milhares de médicos e professores. O sucesso das suas boticas, com remédios feitos a partir de raízes e folhas de plantas, suplantava largamente o atendimento nas caixas de previdência, onde enfermos e peregrinos tinham de suportar horas e horas de espera para uma consulta, com a agravante de por essas alturas não haver ainda o hábito enraizado de ler revistas antigas nas salas de espera.

A educação tinha vários defeitos: funcionava em circuito fechado, isto é, os professores eram do clero e ensinavam os futuros clérigos; não havia lei de bases do sistema educativo; as propinas eram elevadas e o material educativo estava pela hora da morte, pois todos os livros eram edições de luxo, copiados e ilustrados à mão, com folhas de pergaminho e capas de cabedal trabalhado.
Os testes eram muito difíceis, pois eram escritos em latim, o que para a maioria era chinês, embora os monges copistas tivessem sempre boas notas, talvez por defeito de profissão.

Às ilustrações chamavam-se “iluminuras”, o que era um contra-senso, pois geralmente eram feitas quase às escuras, no interior de grandes bibliotecas, o que justifica a qualidade desses desenhos, pois se o monge estava a trabalhar às escuras e não fizesse uma boa iluminura, não conseguiria ver o resto do trabalho.

12/06/11

A NOBREZA

Neste grupo social podemos considerar dois sub-grupos: a Alta Nobreza (ricos homens, com mais de 1,80m, olhos azuis e compridos cabelos louros, que adoravam desfilar na corte com seus gibões de pavão) e a Baixa Nobreza (todos os outros nobres e escudeiros que apenas sugavam o sustento do rei, acompanhando-o para todo o lado nas funções de guarda-costas ou guarda-peitos da rainha). Entre os nobres temos também os infanções, ou seja, os infantes-escanções, encarregues de provar o vinho real.

A maioria dos senhores vivia em castelos, habitando nas torres de menagem, as quais abriam à visita de turistas para excursões guiadas nos feriados. No salão nobre tomavam as refeições, ricas em hidratos de carbono, gorduras monoinsaturadas, triglicéridos e lípidos com fartura; o mobiliário era reduzido e de design minimalista (tipo ikea mas em rústico), e, nos dias frios, acendiam-se lareiras, o que, não dominando ainda o fabrico de chaminés, arte que só chegaria com a conquista completa do Algarve, lhes deixava a roupa impregnada de um aroma a fumeiro, digno de chouriças barrosãs.
A principal ocupação dos nobres era o combate, usando espadas, lanças, maças, escudos, fisgas, pontapé nas canelas e cuspidelas. Cada cavaleiro tinha um escudeiro que, como o próprio nome indica, lhe tratava das finanças e preenchia os recibos verdes, que o seu senhor tinha de emitir em troca dos escudos recebidos pela participação nos combates.
Por vezes, caçavam cervos, ursos, javalis ou camponesas indefesas e, quando o ar livre não o permitia, dedicavam-se a jogos de sala, entre eles o xadrez. Embora não fosse de bom tom, a sua manobra preferida era comer a rainha com o bispo. Para animar o ambiente, existiam os jograis e os trovadores que, acompanhados à viola e ao bandolim, declamavam poemas, cantavam canções e levavam com tomates podres quando a música não agradava aos ouvintes.
 
hits