Para ajudar os reis cristãos nestas tarefas, vinham um pouco de toda a Europa os cruzados, os quais eram profissionais liberais na arte de cavalgar e dar no coiro dos mouros. Trabalhavam a recibo verde para quem precisasse de conquistar terras e, por isso, se um rei ganhasse terreno aos infiéis à custa do trabalho dos cruzados, deveria pagar-lhes dando-lhes as suas partes (sem segundos sentidos, obviamente), isto é, terras para eles governarem em seu nome – os condados.
Atraídos por tais benesses, os cruzados adoptavam uma táctica de guerra com resultados quase garantidos, a chamada táctica do triângulo (em ilustração anexa), em que um cruzado jogava avançado em cunha e os restantes flanqueavam-no, para assim melhor penetrarem em terreno inimigo. Dois destes nobre profissionais liberais que muito terreno conquistaram, eram os fidalgos franceses D.Raimundo e D.Henrique de Borgonha (este, com mais sentido do dever e borgonha na cara).

Contudo, o rei de Leão, D.Afonso VI, para quem eles trabalhavam, entendeu que os dois cavaleiros não teriam cumprido os objectivos mínimos do serviço, e por isso decidiu castigá-los casando-os com as suas filhas solteironas. D.Raimundo desesperou quando soube que lhe tinha calhado em sorte uma esposa com o nome de D.Urraca.
D.Henrique ficou menos mal, calhando-lhe D.Teresa e recebendo como dote o Condado Portucalense. Impõe-se perguntar como terá surgido o nome do Condado. Existem várias teorias acerca do assunto, embora aquela que mais votos colheu na sondagem efectuada na Sociedade Secreta de Historiadores Anónimos, aponte para a existência na margem esquerda do rio Douro, de uma pequena povoação de nome Cale (onde hoje se situará Gaia), na qual existia um Portus (nome romano para o local onde desembarcavam mercadorias).
De Portus e Cale, parecem derivar os nomes de Portucalense e Portugal, embora por esta teoria, devamos dar graças ao Senhor por não terem fundado um condado em terras vizinhas daquela, como Valadares, Melres ou Labruge, o que nos colocaria hoje a viver em Valadaral, Melral ou Labrujal.
São, contudo, teorias especulativas. O que interessa é que em 1096 D.Henrique de Borgonha recebe a mão de D.Teresa, o resto do seu corpo e, por acréscimo, o Condado Portucalense. O conde viveu uma vida cheia, pois por um lado tinha como ambição tornar o seu condado independente (o que não veio a conseguir), e por outro, a sua ardente fé religiosa levava-o a passar a vida em viagens, romarias, peregrinações e congressos da fé. Ora isto obrigava D.Teresa a passar longos períodos sozinha no castelo de Guimarães e, como já dizia o povo naquela altura, “patrão fora, dia santo na loja”...

Há quem diga que foi por causa dessas actividades de tempos livres que D.Henrique morreu de desgosto, embora a maior parte dos psicanalistas defenda que foi por frustração de não conseguir a independência para o condado. Trata-se de um assunto que só o próprio poderá confirmar ou não, se a isso estiver disposto.
Por morte de D.Henrique, D.Teresa assume os comandos do condado, pois o seu filho, D.Afonso Henriques, tem apenas três anos de idade, o que é insuficiente para tirar a licença de condução de condados. Continuando as suas diatribes de viúva alegre, D.Teresa vai mesmo assim a fortalecer o condado rumo à autonomia, quer guerreando os mouros, quer entrando em habilidosos jogos diplomáticos com a corte de Leão, tais como o Trivial Pursuit, o Monopólio ou mesmo o Scrabble.
Em 1127, o rei de Leão, D.Afonso VII, sobrinho de D.Teresa, tem um sonho em que se vê a governar toda a península Ibérica. Para o conseguir, envia por pombo-correio uma mensagem a D.Teresa exigindo que esta lhe entregue as chaves do condado. Infelizmente (para o pombo, claro), este não chega ao seu destino pois o jovem D.Afonso Henriques apanha-o numa tarde de tiro ao alvo, quando o animal passa em frente ao ponto de mira. Sem o saber, Afonso Henriques dá um pequeno passo para si, ao comer o pombo ao jantar, mas um grande passo para a alteração do curso da história deste país.
Irritado por não obter resposta às suas exigências, D.Afonso VII vem de armas e bagagens instalar-se no castelo de Guimarães, ameaçando que dali não sairá sem levar a submissão dos portucalenses. D.Teresa indignada com tamanha falta de delicadeza, recusa-se a dar-lhe as chaves (do condado e do cinto de castidade). E assim se foram passando os dias, com Afonso VII e sus muchachos instalados em casa alheia, comendo que nem uns alarves, levando à bancarrota a despensa do castelo.
De dia, o rei de Leão comia e aguentava as diabruras do jovem Afonso Henriques. De noite, Afonso VII vagueava pela escuridão em busca da figura que, segundo reza a lenda, tinha mandado construir o castelo no ano de 929 : a figura mítica de Mumadona Dias (esclareça-se que “Mumadona” é o equivalente em português arcaico ao actual “mamalhuda”, daí o interesse do rei em encontrá-la).