01/05/11

ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA * INTRODUÇÃO

Durante esta época de conquistas e reconquistas a sociedade portuguesa foi evoluindo, embora lentamente como é seu apanágio, na sua organização.
Perguntar-se-á se os jovens estudantes terão também de formar o seu conhecimento sobre estas matérias. A resposta é sim, porque mesmo que não tivessem, o contrato obriga os autores desta obra a arranjarem matéria para o máximo de volumes possíveis.

Assim sendo, comecemos pelas guerras contra os mouros, nas quais os reis recebiam muita ajuda de profissionais liberais como os cruzados e os cavaleiros nobres. Estes cavaleiros eram as pessoas mais importantes do reino, por possuírem muitas terras e poderes dados pelo rei e, ainda hoje, mantêm a sua influência no país, nomeadamente, através das Carnes Nobre, SA, produtora de salsichas, fiambres e chourições. Além disso, dado que as guerras eram contra os infiéis, também nelas participavam alguns membros do clero, através das chamadas Ordens Militares-Religiosas.
Dado o carácter fechado que a Santa Sé apresenta até hoje, não é possível sabermos ao certo de que se tratavam estas ordens. Enquanto uns historiadores afirmam que as ordens militares-religiosas eram ordens dadas pelo rei e pelo papa ao mesmo tempo, outros historiadores, certamente menos parvos, apontam estas ordens como sendo constituídas por padres-guerreiros dispostos a defender as igrejas dos ataques dos ladrões. Esta hipótese parece-nos mais verosímil, pois em verdade os padres, monges e frades destas ordens militares-religiosas adoravam uma boa luta onde pudessem dar no canastro aos muçulmanos, tudo, como é óbvio, com boas intenções cristãs.

Não esquecendo o importante papel destas ordens, a maioria dos combatentes cristãos eram homens do povo, sem direitos mas com muitos deveres, que os senhores usavam nas batalhas por constituírem mão-de-obra barata, sem regalias e com contratos precários – o verdadeiro protótipo da geração à rasca – fazendo umas horas extra para ajudar o orçamento familiar ou, caso o senhor estivesse bem disposto, podendo candidatar-se a alguma das bancas deixadas livres pelos muçulmanos.
A principal preocupação dos nossos reis eram as terras recentemente conquistadas, pois se não fossem povoadas e cultivadas, ficariam sujeitas a que os retornados muçulmanos as ocupassem de novo, edificando construções clandestinas que depois seriam muito difíceis de derrubar para os expulsar, e isto já não falando nas bolsas de pobreza que esta ocupação selvagem do território poderia criar nos subúrbios das grandes cidades.

Como as terras conquistadas eram por princípio do rei, a distribuição era feita quer através de leilões imobiliários (como forma de angariar receitas), quer através de doações (embora não dedutíveis em sede de IRS). Para si, o rei reservava certas terras com maior valor imobiliário quer pelos seus recursos quer pela proximidade a grandes vias de comunicação – a estas terras dava-se o nome de Reguengos, como Reguengo do Alviela ou Reguengos de Monsarraz. Os reguengos eram assim as terras do senhor (não aquele que é omnipresente, mas o que é omnipotente).
As terras dadas aos grandes senhores eram conhecidas como senhorios, pois estes apareciam em casa dos aldeões, normalmente até ao dia 8 de cada mês, para recolher as rendas que os colonos lhes deviam. Se estes não pudessem pagar na data acordada, tinham ainda um prazo alargado de um dia, para o fazer, caso contrário, seriam despejados sem aviso prévio. Se os senhores das terras fossem do jet-set, as propriedades também eram conhecidas por honras, devido à honra que os camponeses tinham em poderem trabalhar como escravos para gente tão ilustre, tão in e tão bem, que passava a vida em festas.

Caso as terras pertencessem ao clero, eram chamadas de coutos, o que depois da reforma agrária deu origem a famílias poderosas conhecidas como Coutos. Da evolução genealógica destas famílias, temos hoje dignos representantes como sejam o Couto do ramo da pasta medicinal, ou o Couto do ramo dos Fernandos, que deu grandes centrais de futebol ao país.

Outra forma de povoamento consistia em dar regalias especiais aos homens do povo que para lá quisessem ir, como isenção de sisa, redução de contribuição autárquica, redução de IRS (Imposto para o Rei, dos Súbditos), etc, por meio de uma carta de foral, documento escrito em que se fixavam as regalias e as obrigações (mais estas), dos moradores de determinada povoação. Essa povoação passava a chamar-se concelho, e se fossem bons concelhos, deviam ser seguidos. Os seus habitantes eram conhecidos pelo nome de vizinhos, pelo que, aqueles do povo que ficavam fora dos limites de um concelho e sem os seus benefícios, podiam dizer que “a galinha do meu vizinho é sempre mais gorda do que a minha”. Outras das desvantagens, caso tivessem telhados de vidro, era não convir atirar pedras aos vizinhos.

Genericamente, a sociedade era constituída por três grupos sociais: um alimentava os três, outro rezava pelos dois e o terceiro defendia-se a si próprio. A Nobreza era a classe mais alta de manda-chuvas, logo a seguir ao rei, enquanto o Clero era um partido independente que defendia o Cristianismo Ronaldismo. Já o povo era a classe mais baixa, isto é, as pessoas vulgares e não atraentes.
 
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